Alimentação e saúde

Alimentação e saúde

Orientações

Os líquidos na Desintoxicação

Texto extraído de: Caderno de Sinais, n.01 jan 1998 – Figueira

Como quase sempre os desequilíbrios orgânicos estão relacionados a um excesso de toxinas, dietas para eliminá-las são recomendáveis em grande parte das enfermidades. Auxiliam a cura, pois os procedimentos terapêuticos se tornam mais efetivos quando o corpo está mais leve.

Após um período de desintoxicação, costuma surgir espontaneamente em nós a necessidade de mudar os hábitos alimentares. Se então adotarmos uma alimentação equilibrada, estaremos exercendo ação preventiva contra muitas doenças.
Atualmente, observa-se que a maioria das pessoas tem o corpo físico depauperado; por isso, já não são recomendáveis jejuns prolongados, nem severos, como aqueles à base só de água. É preciso hoje que os corpos se desintoxiquem e, ao mesmo tempo, entrem em um processo de regeneração e reconstrução. Tendo isso presente, os programas de desintoxicação que propomos baseiam-se em dietas líquidas, com sucos de hortaliças e de frutas.

Se durarem mais de um dia, as dietas devem ser iniciadas e finalizadas gradativamente.

Desintoxicação quinzenal à base de líquidos

Pela manhã: Caldo de nabo, ao despertar. Suco verde, no meio da manhã. Entre o suco verde e o almoço, beber periodicamente água pura, para hidratar o organismo.

Almoço: Suco de hortaliças e brotos, ou suco de banana e mamão.

Durante a tarde: Suco de abacaxi e beterraba com um pouco de limão e mel.

Jantar: Suco de mamão com banana, feito com água de coco verde. Pode-se substituir a água de coco por leite de brotos de feijão-moyashi, de girassol ou de alfafa, ou simplesmente por água pura.

Como preparar

Caldo de nabo: Liquidificar em 300 ml de água um nabo com algumas de suas folhas e 2 fatias finas de gengibre (opcional). Aquecer o líquido obtido, tendo o cuidado de não deixá-lo ferver. Tomá-lo puro ou com um pouco de shoyu.

Suco verde: Podem ser usadas folhas de agrião, couve aiDO ou salsão (com o talo), folhas de
brócolos, de rabanete, dente-de-leão, confrei, hortelã e salsa. Liquidificar um punhado de folhas em 300 ml de água. Adicionar meio limão e um pouco de mel ou melado.

Suco de mamão e banana: Liquidificar as frutas juntas, em água pura, água de coco ou leite de brotos (de feijão-moyashi, de girassol ou de alfafa). Para obter o leite de brotos, liquidificar um punhado deles em 300 ml de água.

Suco de beterraba e abacaxi: Liquidificar 1 beterraba pequena e 2 fatias de abacaxi em 300 ml de água. O abacaxi pode ser substituído por mamão, manga ou melancia.

Suco de hortaliças: Liquidificar em 500 ml de água 1 folha de repolho, 1 talo de aipo ou salsão com as folhas, 1 cenoura sem folhas, 1 beterraba pequena e um pouco de salsa. Podem-se usar também brotos.

Observações: Usar verduras e frutas tratadas sem agrotóxicos. Beber os sucos lentamente.

Reflexões

Propriedade espiritual do alimento

Nesta época em que tanto se publica sobre dieta e métodos para se aumentar ou diminuir o peso do corpo através da dieta, ou para se melhorar o estado geral de saúde pelo controle da alimentação, parece estranho que a importante questão do efeito espiritual do alimento seja completamente negligenciada.

Provavelmente muito tempo antes que o homem descobrisse, de algum modo científico a natureza química precisa dos alimentos e seu efeito sobre o corpo físico, ele tinha consciência da propriedade espiritual dos mesmos e de seu efeito sobre a personalidade e as emoções dos seres humanos, no entanto, este importantíssimo assunto gradativamente passou a integrar os ensinamentos secretos de varias organizações privativas e , hoje, tem sido retido quase inteiramente nos ensinamentos privativos de várias escolas de mistérios, como tema para estudo restrito daqueles que fazem parte de um circulo interno de sabedoria.

Real finalidade do alimento

Talvez a falta de uma apreciação correta dos efeitos espirituais do alimento se deva ao fato de que poucas pessoas compreendem plenamente a real finalidade de todo alimento. A idéia generalizada parece ser a de que ingerimos alimento tão somente para manter a constituição física e química do corpo, proporcionando-lhe a vitalidade necessária a animá-lo. Em outras palavras, o alimento é considerado como um meio de subsistência física e é encarado, portanto, em seu aspecto puramente químico. Mesmo assim, porém, o assunto não é devidamente tratado, pois, o efeito químico do alimento não pode ser medido exclusivamente em sua relação com o aspecto puramente material do ser humano.

Atributos interiores do homem

Quando nos detemos para pensar que o homem é mais do que o mero corpo físico, que ele é composto de mais do que elementos puramente químico, e que vida e consciência são coisas que não dependem totalmente dos elementos químicos do alimento ingerido, podemos perceber que o homem é uma criatura muito complexa e que sua natureza está dividida em dois aspectos: sua constituição físico-química e sua natureza espiritual-consciente. Nos mais antigos escritos secretos ou sagrados, relativos a natureza da personalidade e do caráter do homem, há muitas referências ao fato de que o espirito do homem se manifesta através do seu corpo físico, e de que a parte real do homem, no âmago do seu ser, depende do estado do corpo físico para se expressar e manifestar.

O homem espiritual

O aspecto espiritual da existência do homem, portanto, depende do corpo físico e seu estado, para quaisquer manifestações exteriores. Podemos comprar esta idéia com a luz no interior de uma lâmpada elétrica. Areal fonte dessa luz é o filamento, altamente aquecido e incandescente, dentro do bulbo de vidro, mas a manifestação dessa luminosidade depende. em alto grau, da natureza do bulbo que a envolve. Sabemos que um bulbo de vidro liso ou tosco proporciona iluminação mais intensa, ao passo que um bulbo, colorido em azul, amarelo, vermelho, ou âmbar, diminui a quantidade de luz irradiada, a despeito do fato de que haja, dentro desse bulbo, a mesma luminosidade de um bulbo incolor; e sabemos alem disso que, se o vidro límpido se torna sujo ou recoberto de modo que modifique suas propriedades, a luminosidade intensa em seu interior pode ficar totalmente impedida de se irradiar.

Em verdade vos digo, felizes aqueles que comem à mesa do Senhor e se afastam de todas as aberrações de Satã. Não comais alimentos vindos de regiões distantes, mas só aquilo que vossas árvores produzirem Pois vosso Deus sabe exatamente o que é necessário para vós, e onde e quando e ele dá a todos os povos de todos os reinos o alimento que é melhor para cada um.

– Evangelho Essênico da Paz, antigo texto aramaico.

A saúde não pode continuar sendo entendida como a necessidade de hospitais médicos e remédios ”A saúde começa na cozinha”, como diz Ninon. O aumento do numero de mortes por doenças degenerativas decorre de uma alimentação desequilibrada, como conseqüência de urna forma de vida destrutiva, para o homem e para o ambiente em que vive.

Reflexões extraídas do Caderno de Sinais

pag. 42 jan 98

Os instintos do corpo quanto ao alimento tornaram-se tão pervertidos pelos prolongados hábitos artificiais, tão entorpecidos pelo assim chamado velho e civilizado “costume”, que o sistema do corpo não reage mais aos alimentos como deveria. Para restabelecer os instintos adequados e descobrir o que é realmente uma dieta natural para o homem, é necessário um jejum ou uma série de jejuns.

A eliminação da carne de uma dieta correta tem uma base inteiramente cientifica. Essa espécie de alimento contém ácido úrico venenoso em excesso, purina tóxica em excesso para que seja componente saudável de tal dieta. Além disso, deteriora a flora intestinal. Isso não afetará trabalhadores braçais saudáveis, que têm resistência suficiente para eliminar essas toxinas, mas afetará tipos sedentários mais frágeis.

Thomas Jefferson escreveu sobre os que comem carne: “Imagino que deva ser a quantidade de alimento de origem animal ingerida… que torna seu caráter insensível à civilização. Suspeito que a reforma deva ser executada nas suas cozinhas e não nas suas igrejas, e que os missionários desse gênero conseguiriam mais do que aqueles que se esforçam por amansá-los através de preceitos de religião ou filosofia”.

No homem, o instinto assassino é indiretamente conservado vivo pelo seu apetite por carne.

Os homens suplicam ao Senhor, com preces lamentosas, por ajuda compassiva ou perdão benevolente e, no entanto, nem por um momento pensam em eles próprios terem misericórdia para com as criaturas inocentes que são criadas e abatidas para seu proveito. Se suas preces pedindo misericórdia ao Poder Mais Alto permanecem sem resposta, que se lembrem de como eles próprios não demonstraram nenhuma misericórdia.

A intolerância de alguns oponentes fanáticos e agressivos para com os que comem carne, fumam e tomam álcool é, em si mesma, uma atitude perniciosa que, de forma diferente, os lesa tanto quanto esses maus hábitos lesam os viciados.

Seiva de vida

Trechos extraídos do Livro Seiva de Vida, Teodora, 1995-Ed. Cultrix/Pensamento

Há 25 anos tomamos contato com princípios de uma alimentação voltada para o equilíbrio do ser humano e eles passaram a integrar nosso ritmo diário. No entanto, no decorrer do tempo percebemos a necessidade de acrescentar a esse ritmo mais legumes, mais frutas… mais vida.

Um distanciamento da cozinha por 3 anos, algum tempo atrás, fez esvaecer da nossa mente certo montante de conhecimentos adquiridos e hábitos incorporados, o que nos proporcionou maior liberdade para novas experiências. E, quando recentemente surgiu a oportunidade de preparar sucos para pessoas em tratamento, uma fase inédita teve início e foi evoluindo com base no que o dia-a-dia nos apresentava.

Ao concluir a redação deste livro, notamos com mais clareza o caminho alimentar que nos fora propiciado ao longo do tempo. Aparentemente tomamos rumo oposto àquele a que aderimos no começo e passamos a utilizar em maior proporção alimentos crus, como frutas, hortaliças e brotos. Além disso, aprofundamos na prática as noções sobre a atitude de amor a ser cultivada por todo aquele que manuseia os alimentos. Assim, embora de outro modo, continuamos visando à harmonia do ser humano.

Tudo o que ingerimos torna-se parte dos nossos corpos como substancia e vibração, e, por isso, a depender do nosso estado de consciência ou do que estamos vivendo, diferentes são os alimentos adequados para eles.

A Terra vinha desenvolvendo, nos ciclos anteriores, os aspectos masculinos do seu ser, e as pessoas, para chegarem ao equilíbrio, precisavam conquistar o mundo material, precisavam tornar-se mais concretas. Os sistemas alimentares que então vieram ao conhecimento da humanidade por inspiração superior colaboraram nessa direção. Hoje a preponderância dos aspectos masculinos da energia planetária vem cedendo lugar à dos femininos, e os corpos humanos estão-se tornando pouco a pouco mais receptivos a processos de sutilização. Nesse novo contexto, é tarefa dos que percebem tal mudança elevar cada vez mais a matéria, e formas intuitivas de preparar os alimentos surgem para contribuir nesse movimento ascensional.

Procuramos, nestas páginas, compartilhar com o leitor a nossa experiência com uma alimentação saudável e própria para os que acompanham a sutilização da energia na atual etapa da Terra.

Atitude ante o alimento

Os vegetais contêm a luz solar condensada em cor, sabor e aroma. As cores dos alimentos—como os tons amarelos e alaranjados que nos trazem a vibração do Sol, os verdes carregados de vitalidade, os vermelhos cheios de movimento, os roxos profundos; uma vez bem combinadas, descortinam-nos um mundo de beleza e de harmonia. E, ao introduzirmos beleza e harmonia em nossa vida, a consciência eleva-se.

Pela correta combinação de cores, o organismo é estimulado a aceitar o alimento antes mesmo do contato direto com ele. As cores são, portanto, sumamente importantes na nutrição. Agem sobre órgãos, glândulas e sistema nervoso. Sua irradiação vitaliza, limpa e cura.

Quando nos descondicionamos da culinária tradicional, carregada de temperos e misturas que superestimulam a parte sensorial de nossos corpos, redescobrimos, além das cores, os sabores e aromas que os vegetais trazem consigo. Passamos então a reuni-los de maneira que cada um possa manifestar sua vibração, tal como fazem as distintas notas de uma sinfonia. Com essa consciência presente também ao ingerirmos o alimento, permitimos que energias sutis nos permeiem.

Os aromas, especialmente os de certas flores e ervas, equilibram e harmonizam a parte etérica, a emocional e a mental do nosso ser. Algumas têm, além de atuação medicinal, o poder de transmutar energias e de elevar-nos. Assim, perante cada vegetal que colhemos, lavamos e cortamos, em cada pequeno gesto durante a preparação e a ingestão do alimento, podemos e devemos expressar reverência pela vida. No Agni Yoga’ diz-se: “Pode-se ver que um consumo consciente de vitaminas aumenta sua utilidade muitas vezes. Da mesma maneira, pode-se notar que a absorção de vitaminas num momento de irritação pode aumentar o imperil*, porque uma energia inconsciente fortalece o ponto onde a consciência se concentra. Pode-se compreender por que a ingestão dos alimentos era considerada sagrada pelos antigos. É fácil também compreender até que ponto a conscientização multiplica todas as energias”.

Os vegetais, por si mesmos, já canalizam e transformam a energia solar, captada por suas folhas e flores, e a energia que circula no interior da terra, absorvida por suas raízes. Mas ao coligarmo-nos com o Mais Alto enquanto os elaboramos ou ingerimos, despertamos neles ainda maior potencial. Lidar com alimentos deve ser sempre, pois, uma cerimônia em que estão implícitos amor e gratidão ao Criador, aos reinos da natureza que nos proporcionaram essa dádiva, a todos os seres que consciente ou inconscientemente colaboraram para que eles chegassem até nós, ao corpo que absorve as substancias e assim nos permite viver e trabalhar sobre a Terra.

O ato de elaborar e de receber o alimento deveria ser interiorizado, silencioso. Dessa maneira, ao serem transformadas no interior do corpo, as substancias não só o nutrirão, mas o curarão.
Todos os poderes do reino vegetal devem ser dirigidos para o único objetivo pelo qual eles existem— o aumento da vitalidade. É possível curar as doenças contrapondo-lhes a vitalidade, afirma-se também no Agni Yoga.

* Vide FRATERNIDADE, Agni Yoga Society, Nova York. O Agni Yoga faz referência a uma “secreção” sutil gerada pelo corpo quando o indivíduo se encontra em estado de irritação ou de ansiedade; dá a essa secreção o nome de “imperil”:

“…Buscamos difundir, por este livro, o resultado de uma experiência que se iniciou com o preparo de sucos para pessoas que estavam passando por processos de cura. Usamos, no início, as folhas disponíveis em nossa horta caseira. Com paciência, fomos aos poucos percebendo como aprimorá-los. E, ao mesmo tempo que nossa consciência se expandia, iam-nos sendo mostrados os passos a seguir.

Nossas primeiras observações estavam relacionadas à colheita das folhas que deveriam compor cada suco. A necessidade das pessoas que iriam tomá-lo era o que direcionava essa colheita. Por exemplo, se o suco devesse ser remineralizante, acabávamos encontrando não apenas na horta, mas no entorno, folhas com essa propriedade. O mesmo ocorria quando havia necessidade de combater uma anemia, de desinflamar vias biliares, de desobstruir vasos sangüíneos, etc. Adquirida certa harmonia com a natureza, víamos as plantas adequadas a diferentes situações de carência e desequilíbrio do organismo surgirem nas proximidades. A presença dessas plantas era como uma resposta à nossa busca e às nossas indagações.

Notamos depois, no dia-a-dia, que etapas determinadas precisariam ser seguidas na elaboração de um suco, de modo que ele pudesse revelar todo o seu potencial, específico em cada combinação de vegetais. No decorrer dessas descobertas, passamos a produzir soros e leites de sementes germinadas e os incorporamos aos sucos. Percebemos então nas pessoas em tratamento respostas imediatas e notórias: o fortalecimento do organismo e a dissolução de vários sintomas em poucos dias, além de visível reequilíbrio energético.”

“Uma lata de lixo”

Gloria Swanson

O médico se chamava Henry C. Bieler e seu consultório era tão pequeno e modesto que conferi novamente o endereço antes de entrar. Não havia recepcionista nem enfermeira, apenas uma sala simples com algumas cadeiras e um aviso na parede com os dizeres: PROIBIDO FUMAR. “Ah, não!”, pensei. “Será que fiz esta longa viagem até Pasadena para ouvir um sermão sobre os perigos do fumo?”

O Dr. Bieler era um homem franzino, pouco mais alto do que eu. Lembrava mais um guarda-livros do que um médico. Não usava avental nem estetoscópio, não cheirava a remédio nem a desinfetante. Repeti o que já havia informado por telefone — que eu temia estar com úlcera e que a Sra. Crey o havia recomendado. Ele não parecia prestar muita atenção às minhas palavras. Apenas me fitava. Indicou uma cadeira em frente à sua mesa convidando-me a sentar. Finalmente, falou:

— Por favor, tire os brincos.

Levei a mão à orelha enquanto pensava: “Que coisa mais ridícula, acho melhor ir embora.” O médico, porém, continuava a me olhar com insistência de modo que tirei os brincos e guardei-os na bolsa. Tirando da gaveta um grande bloco amarelo e um lápis, o doutor perguntou:

— O que você jantou ontem à noite?

Eu continuava confusa por causa da história dos brincos, mas ao menos esta pergunta relacionava-se com o meu estômago, onde sentia a dor, e portanto apressei-me a colaborar.

— Um coquetel de camarão.

— Você não comeu aquelas coisinhas antes de ir para a mesa?

— Ah, sim. Deixe-me ver, comi umas amêndoas defumadas, azeitonas verdes envoltas em bacon e um ovo recheado.

Ele anotava tudo. Quando chegou ao ovo, pediu-me que aguardasse um instante até que pudesse me alcançar. Divertida, olhei o que ele escrevia. Ovo recheado não eram apenas duas palavras e sim uma lista de todos os ingredientes: ovo, maionese, mostarda, páprica, molho inglês, cebolinhas.

— E também um pouco de patê e um folheado de queijo — conclui apressada a fim de fazê-lo compreender que eu era uma mulher ocupada e não estava com disposição para besteiras. Sem alterar o ritmo, ele adicionou esses itens à lista.

— Você bebeu? — perguntou ele.

— Sim. Uma pequena dose de vermute.

— Muito bem. Agora voltemos ao jantar. O coquetel de camarão foi servido com que molho?

Tive vontade de dizer-lhe para adivinhar mas consegui me controlar.

— Um molho vermelho.

Ele parou uns instantes para pensar e em seguida acrescentou vários itens à lista. Continuou me questionando, prato por prato, o que eu consumira na noite anterior durante o jantar com Henri e seus amigos: sopa, peixe, frango, os diversos vinhos, a geléia que acompanhava o frango, o molho e o recheio do peixe, as ervilhas, os aspargos frescos.

— Com molho holandês? — Ele indagou. Eu assenti e ele anotou.

— E a sobremesa? — Perguntou ele quando chegamos ao fim.

— Minha cozinheira inglesa preparou um bolo — informei.

— Compreendo — murmurou ele ao listar os ingredientes: ovos, farinha de trigo, geléia de framboesa, xerez, creme batido, lascas de amêndoas, cerejas ao marasquino.

— Café?

— Não.

— Nenhuma bebida depois do jantar?

— Uma taça de champanhe — eu disse — e fumei vários cigarros — acrescentei, imaginando ser o que ele queria que eu confessasse.

A informação não pareceu interessá-lo. A essa altura, ele já preenchera três folhas e estudava-as com a minúcia de um contador.

— Bem, agora vejamos — disse ele — Feche os olhos enquanto eu leio cada item que anotei. Quero que você imagine um prato vazio e, à medida que eu for contando os ingredientes, visualize-os formando uma pilha no prato. Ou melhor ainda, imagine jogando as colheradas no lixo.

O Dr. Bieler pôs-se a ler bem deva ar. Comecei a sentir tamanho enjôo que pensei que ia vomitar. Ao terminar, ele perguntou calmamente:

— Diga-me, que animal, inclusive um porco, iria ingerir tal mistura em menos de duas horas?

Fiquei estarrecida. Ninguém jamais havia falado comigo dessa maneira. Ele me lançou um sorriso zombeteiro, antes de me atingir em cheio:

— Por que você trata o seu estômago como se fosse uma lata de lixo?

Trocamos um sorriso de completa confiança. Compreendi que ele era o médico de que eu precisava e ele sabia que eu poderia ser curada.

O Dr. Bieler me contou que, quando cursava a faculdade de medicina, ele próprio fora uma pessoa doentia, com asma e problemas nos rins.

Seus professores recomendavam todos os tratamentos convencionais, mas ele estava cada vez pior. Por fim, ele encontrou um livro, há muito tempo esgotado, sobre o jejum. Como havia tentado de tudo sem sucesso, achou que não tinha nada a perder, a não ser o peso supérfluo.

À medida que emagrecia, seus amigos e professores ficaram preocupados. No entanto, ele não se sentia mal e, quando havia perdido 27 kg, estava livre também da asma e dos distúrbios renais.

Ele começou a ler livros sobre medicina natural, escritos por médicos americanos que haviam estudado e clinicado no início do século, antes que os médicos passassem a receitar apenas medicamentos padronizados, produzidos pelos grandes laboratórios farmacêuticos internacionais. A essa altura, tornou-se um dissidente e voltou ao bom senso usado em época mais sadia.

Achei que suas palavras faziam sentido. Na verdade, só de ouvi-lo já me sentia melhor. Ao fim de uma hora e meia, disse que eu podia recolocar os brincos. Receitou-me uma série de lavagens intestinais e uma dieta consistindo de sopa de legumes feita com abobrinha, salsão e vagem, pedindo que retomasse dentro de uma semana.

Antes de sair perguntei:

— Por que me pediu para tirar os brincos?

— Para ver seus lóbulos. Lóbulos compridos, como os seus, indicam glândulas supra-renais sadias.

Os primeiros dias foram difíceis e, à medida que meu organismo eliminava as toxinas acumuladas, Henri protestava indignado que em vez de me curar eu acabaria ainda mais doente. No entanto, quando voltei para o Dr. Bieler, eu me sentia outra mulher. Ao apresentar-me ao estúdio para o próximo filme, tinha a pele sedosa, os olhos claros e brilhantes e os nervos tranqüilos.

O Dr. Bieler era um grande médico porque era um excelente professor. Ensinou-me coisas simples como: Não existem milhares de distúrbios físicos, apenas um — a toxemia.

Envenenamos a nós mesmos e uns aos outros. A dor é um sinal divino, enviado pelos céus, por Deus, pela Mãe Natureza, o que seja, advertindo-nos que é preciso mudar nossos hábitos, parar de nos envenenar, desintoxicar-nos. Se nos alimentamos de maneira simples, comendo alimentos naturais em quantidades pequenas, nosso maravilhoso organismo se cura naturalmente. Cada indivíduo é responsável pela própria saúde. Ele disse que não permitia que seus pacientes tomassem qualquer medicamento, nem mesmo uma simples aspirina. Tomar analgésicos é tratar os sintomas, advertiu, é loucura semelhante a desligar o alarme e deixar o fogo se alastrar.

À sua maneira, o Dr. Bieler era um gênio. Ele modificou a minha vida. No entanto, era tão modesto quanto o preço da sua consulta: três dólares.

Fonte: Um Assassinato Perfeitamente Legal — Nossa Alimentação. Organizado por Hildegard Bromberg Richter. Paulus, São Paulo, 1997.

Seu comentário é muito importante

Leave a Reply

Your email address will not be published.