Por Tânia Rabello
Ao caminhar pelas trilhas do Jardim Botânico Araribá (JBA), em Amparo (SP), um detalhe chama a atenção: entre a vegetação, placas de metal colocadas defronte a algumas árvores e que identificam as espécies vegetais. Pelo nível de detalhe das informações e também pelo “visual” das placas, nota-se o cuidado com que elas foram confeccionadas.
Ali constam nome popular da árvore, nome científico, origem, tipo de floresta na qual a espécie é encontrada, usos mais comuns, entre outras informações que acabam por se transformar em uma aula de botânica in loco – com a árvore na sua frente e ao vivo. É possível aprender sobre espécies de plantas medicinais e alimentícias, ou sobre aquelas que produzem aromas e corantes, entre outras finalidades. E checar essa qualidade ao vivo, numa rica experiência botânico-sensorial.
Outra questão que chama a atenção é o material sobre o qual a identificação é feita: tampas reutilizadas de computadores. São feitas de metal e medem em torno de 50×50 centímetros. São reaproveitadas, recicladas, o que contribui para reduzir o impacto ambiental, como não poderia deixar de ser em um Jardim Botânico. E mais: não se usam tintas sobre as placas para escrever a identificação das espécies. Como elas já têm uma tinta negra na superfície, uma espécie de impressora a laser descasca essa tinta, formando as letras e frases. Estratégia que garante grande durabilidade para um material que vai ficar ao relento, esperamos, por muitos anos.
A ideia de reutilização das tampas de PCs surgiu em várias reuniões do Grupo de Ações e Estudos Ambientais (GAEA) – gestor do JBA -, que estudou vários materiais que poderiam servir de suporte para identificação das espécies vegetais e definiu está como a mais sustentável, durável e fácil de“imprimir” as informações.
Já a identificação de cada uma das espécies do JBA é feita em parceria com o Herbário da Universidade de Campinas (Unicamp). Ali, sob a orientação das Professoras Maria Fernanda Calió e Ingrid Koch, os universitários identificam as árvores, sua taxonomia, recolhem amostras de folhas, flores, frutos e sementes e as conservam em uma exsicata. A equipe do GAEA/JBA, por sua vez, complementa as informações – participam ativamente do processo o agrônomo Emilson Rabelo do Viveiro Ambiental Mudas, a farmacêutica especialista em plantas medicinais Edilene Pires de Camargo, o agrônomo Ivan Rossetti e o proprietário do Viveiro Oití, em Holambra (SP), Flores Welle. Por fim, o que se obtém é uma documentação das plantas vivas encontradas no JBA.
Além disso, o JBA conseguiu o apoio de uma empresa que trabalha com impressão a laser Iguana Decor de Célia Thomé, que se propôs, voluntariamente, a imprimir as placas de metal recicladas a partir do material eletrônico descartado. Até agora, cerca de 40 delas foram instaladas na floresta e faltam pelo menos mais umas 80 nesta primeira etapa de identificação das espécies. Isso somente na trilha principal.
Em parceria com o Herbário da Unicamp e o GAEA, já foram identificadas e confirmadas no JBA 214 espécies vegetais, e ainda tem para confirmação outras 496 espécies identificadas entre árvores, plantas rasteiras e arbustivas. Há vegetais de uso medicinal, aqueles que produzem fibras, alimentos, frutas silvestres e várias outras finalidades. Ou, simplesmente, os que contribuem (como todas os outros) para o equilíbrio ambiental.
Já as placas em si foram coletadas pela equipe do GAEA, que se dispôs, voluntariamente, a “caçar” este material em locais de descarte de lixo eletrônico. Você sabe onde encontrar mais dessas placas? Conte pra gente! Ainda precisamos de muitas mais.
GALERIA DE IMAGENS – IDENTIFICAÇÃO, COLETAS, HERBARIO E PLACAS DE IDENTIFICAÇÃO
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