As árvores deram sementes, mesmo em plena pandemia

As árvores deram sementes, mesmo em plena pandemia

Cada uma das três espécies ameaçadas de extinção e selecionadas no projeto de preservação liberou sementes entre maio e setembro

Por Tânia Rabello

O jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra); o cedro-do-brejo (Cedrela odorata) e o jequitibá-rosa (Cariniana legalis) não “sabem” que o mundo – incluindo o Brasil – ficou praticamente paralisado no primeiro semestre por causa da pandemia de covid-19. Seguiram, assim, seu ciclo natural de produção de sementes, como manda a natureza. Desta forma, os coletores deste material genético tiveram de se adaptar às regras de prevenção ao coronavírus e ao isolamento social para não perder a oportunidade de dar andamento ao projeto de preservação dessas três espécies nativas da mata atlântica, retirando as sementes das árvores no tempo certo para posterior propagação.

A coleta de sementes foi feita em abril/maio para o cedro-do-brejo; em julho/agosto para o jacarandá-da-bahia e em agosto/setembro para o jequitibá-rosa, conta o  diretor de projetos da Frepesp, Guaraci Diniz. O projeto de preservação dessas espécies ameaçadas de extinção, realizado pelo Jardim Botânico Araribá (JBA) e pela Federação das Reservas Ecológicas Particulares do Estado de São Paulo (Frepesp), em parceria com o Botanic Gardens Conservation International (BGCI), do Reino Unido, e com financiamento da Fondation Franklinia, da Suíça, prevê a formação de 2.500 mudas, que serão plantadas em 180 hectares de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) parceiras do projeto: a RPPN Duas Cachoeiras, em Amparo; a RPPN Fazenda Serrinha, de Bragança Paulista; a RPPN Estância Jatobá, de Holambra; a RPPN Amadeu Botelho, de Jaú; a RPPN Porto do Ifé, de Colômbia, e a RPPN Renópolis, de Espírito Santo do Pinhal. Além delas, são parceiros o viveiro Ambiental Mudas, de Araraquara, e o viveiro Oiti, de Holambra, e o Jardim Botânico de Jundiaí.

Thiago P. Pires, engenheiro florestal coordenador geral e um dos coletores de sementes do Jardim Botânico de Jundiaí, conta que, tendo em vista o fechamento de áreas de conservação para visitação por causa da pandemia de coronavírus, teve de recorrer, em alguns casos, a árvores que estavam produzindo sementes em praças públicas. “Consegui, o apoio da prefeitura de Jundiaí, um caminhão com uma cesta elevatória para me erguer até o alto da copa do jequitibá-rosa em Jundiaí”, diz Thiago, lembrando que um jequitibá-rosa pode alcançar até 50 metros de altura. É a espécie arbórea mais alta das matas nativas paulistas. Em matas fechadas, entretanto, esse trabalho de alcançar a copa das árvores é feito por meio de  equipamentos de escalada e de um equipamento chamado  “podão”.

De todo modo, as coletas foram feitas pelos “heróis da quarentena” Thiago Pires, do Jardim Botânico de Jundiaí, Emilson Rabelo, do Ambiental Mudas e Flores Welle, do viveiro Oiti.  O trabalho, conta Emilson, não poderia ser adiado porque cada semente tem o momento certo de coleta. “Se não fosse feito nesse período, certamente o trabalho teria de ser transposto para o ano que vem.”

Reuniões antes da pandemia… Ainda não era necessário o uso de máscaras….
  • Guaraci, do JBA/Frepesp, acrescenta que, coletadas as sementes – foram 24.000 obtidas entre abril e setembro –, seguindo-se todas as regras e legislação ambiental para se coletar material propagativo de espécies vegetais, elas foram semeadas nos viveiros Oiti e Ambiental Mudas e já começam a se transformar em pequenas mudas. “Houve todo um trabalho de registro  em fichas de campo dos procedimentos, desde a localização das árvores matrizes até a sua identificação, coleta de sementes de quais plantas e anotações sobre como foi feita a quebra de dormência desse material”, relata Guaraci. A equipe responsável pelo registro técnico é  a engenheira agrônoma Eliana A. Mattos e Luiz H. Baqueiro, biólogo, ambos do Grupo de Estudos e Ações Ambientais (GAEA), de Amparo (SP). “Esse pessoal, parceiro do projeto, também está obtendo mais dados sobre as condições atuais em nosso ecossistema dessas espécies ameaçadas de extinção”, comenta Guaraci. A proposta, ao fim, além do plantio das mudas em áreas de preservação, é reunir documentos e publicar um protocolo de propagação que oriente e facilite o trabalho de possíveis futuros multiplicadores de sementes dessas três espécies. “Queremos deixar um registro para o futuro”, finaliza Guaraci, do JBA.

 

 

 

 

 

 

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