Girassol – Importância e utilização

Girassol – Importância e utilização

Autora do texto: Dra. Maria Regina Gonçalves Ungaro. Centro de Plantas Graníferas, Instituto Agronômico (IAC) Campinas, SP. Com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq.

Introdução

girasso2O girassol é nativo da América do Norte, podendo ser encontrado no estado selvagem desde as planícies do noroeste do Canadá até a América do Sul.
Evidências arqueológicas revelam o uso do girassol entre os índios americanos. Pelo menos uma referência menciona que o cultivo do girassol teve início no Arizona e no Novo México cerca de 3.000 a.C. Muitas evidências indicam que um tipo monocefálico de girassol doméstico existiu na pré-história e que ele pode ter sido domesticado antes da introdução do milho na América do Norte.
Acredita-se que o girassol de haste única apareceu como resultado de uma mutação do tipo selvagem ramificado e foi deliberadamente selecionado pelos índios para este caráter. Outras características como pigmentação, tamanho das sementes, peculiaridades da casca e maturação também foram fixadas pelos índios.
Supõem-se que o girassol foi introduzido na Europa no início do século XIV, na Espanha, e a descrição feita por Dodanaeus em 1568 mostrava um tipo monocefálico semelhante ao atual girassol comercial. Ele chegou à Rússia no século XVIII, inicialmente como planta ornamental e, por volta de 1830, teve início a produção de óleo de girassol em escala comercial. A partir daí, sua expansão foi rápida; no início do século XX, existiam fábricas que processavam as hastes de girassol para produção de potássio uma vez que as hastes secas contêm cerca de 5% desse elemento.

Importância e utilização

O girassol é uma das quatro maiores culturas oleaginosas produtoras de óleo vegetal comestível em utilização no mundo. É cultivado, com sucesso, nos cinco continentes, em mais de 20 milhões de hectares. Os maiores produtores mundiais são a Rússia, a Argentina e os Estados Unidos.

Se existe a planta ideal, da qual tudo se aproveita, o girassol está bem próximo dela. As raízes, do tipo pivotante, promovem uma considerável reciclagem de nutrientes, além da matéria orgânica deixada no solo pela sua morte; as hastes podem originar material para forraçâo acústica com ótimas características, além de, juntamente com as folhas, promoverem uma excelente adubação verde e poderem ser ensiladas.

Das flores podem ser extraídos de 20 a 40 kg de mel por hectare de cultura; elas originam as sementes, que podem ser consumidas tanto pelo homem como pelos animais. Delas é extraído um óleo de excelentes qualidades nutricionais, cuja comparação com alguns dos principais óleos vegetais comestíveis pode ser vista na tabela 1. O óleo de girassol é considerado como o de melhores características nutricionais e organolépticas em relação aos outros óleos vegetais comestíveis, principalmente por causa de seu elevado conteúdo de ácido linoléico; ele é recomendado na prevenção de enfermidades cardiovasculares produzidas pelo excesso de colesterol e no tratamento da esclerose múltipla.

O girassol tem sido considerado como planta produtora de óleo, mas também é importante fonte de proteínas para a alimentação animal. A combinação dos farelos de girassol e soja é perfeita uma vez que, enquanto o primeiro é deficiente em lisina e rico em sulfurados, a soja apresenta relação inversa, sendo pobre em sulfurados e rica em lisina.

Algumas pesquisas indicam o girassol como uma importante fonte de volumosos na utilização como alimento para bovinos, na forma de silagem.

O girassol é uma das principais espécies a serem utilizadas na adubação verde, em grande parte devido ao seu desenvolvimento inicial rápido, seu efeito alelopático a grande número de invasoras, à eficiência da planta na reciclagem de nutrientes e, também, em ser um agente protetor de solos contra a erosão e a infestação de invasoras, sendo recomendado para rotação de culturas. A produção média de massa verde fica entre 20 e 40 t/ha, o que corresponde a 2 a 4 t/ha de massa seca, a qual pode atingir 7 t/ha ou mais, dependendo do cultivar utilizado e das condições edafoclimáticas.

Além da vantagem do óleo com elevado teor de ácidos graxos polinsaturados e da boa relação óleo/farelo de 3:2, o girassol ainda apresenta inúmeras vantagens que podem determinar o êxito da cultura em nosso país:

  • ampla adaptação a diferentes condições climáticas, permitindo o plantio tanto em regiões quanto em épocas marginais para outras culturas;
  • melhor aproveitamento da mão de obra da propriedade e da capacidade ociosa da indústria de extração;
  • promove reciclagem de nutrientes;
  • possui efeito alelopático sobre várias plantas daninhas;
  • amplas possibilidades de participação em esquemas de sucessão, consorciação e rotação de culturas;
  • apresenta bom rendimento econômico em termos de investimento/retorno.
  • ser de fácil condução e baixo investimento;
  • produzir óleo comestível de excelente qualidade e propriedades medicinais;
  • possibilitar o aproveitamento da capacidade ociosa da indústria de extração. O País apresenta uma capacidade ociosa de processamento de grãos oleaginosos, dado que, em 1994, processou 16,4 milhões de toneladas de grãos contra uma capacidade instalada de 30 milhões de t/ano.
  • permitir o uso da terra em épocas diferentes da tradicional;

Em resumo, a cultura do girassol é uma das mais versáteis. Para o médio e grande produtor rural, preenche necessidades de opção de rotação e suscessão de culturas com vantagens sobre outras plantas devido à sua menor sensibilidade à seca e a baixas temperaturas, especialmente quando a produção visa o mercado de óleo e de silagem. Para o pequeno produtor, além das vantagens na suscessão e rotação, é planta excelente produtora de mel, grãos para a alimentação de aves e consumo humano. Além disso, a existência de uma micro usina de extração de óleo, acessível para cooperativas, associações de produtores e mesmo agricultores de médio porte, permite a extração do óleo a frio, que serve tanto para fins medicinais (esclerose múltipla), como para uso doméstico, na própria propriedade ou mercado local.

Tabela 1. Composição percentual de ácidos graxos dos principais óleos vegetais comestíveis 
Ácidos graxos   culturas   
girassol soja milho oliva arroz canola
saturados 11,3 16,7 17,8 14,8  23,4 6,5
monoinsaturados 23,2 22,9 35,3 72,6 39,2 61,5
polinsaturados 65,4 59,6 46,9 12,4 37,5 32,0
total insaturados 88,6 82,6 82,2 84,9 76,6 93,5
rel. sat./insaturados 1/7,8 1/4,9 1/4,6 1/5,7 1/3,3 1/14,4
rel oléico/linoléico 1/2,8 1/2,3 1/1,3 6,4/1 1,1/1 1,9/1
ácido linolênico 0,2 6,4 0,7 1,2 0,8 10,0

Características Botânicas

O girassol pertence ao gênero Helianthus, família das Compostas. É um gênero complexo, compreendendo 49 espécies e 19 subespécies, sendo 12 espécies anuais e 37 perenes. Umas poucas espécies são de ocorrência bastante rara, outras são elementos comuns da vegetação natural e algumas são quase plantas daninhas, desenvolvendo-se em áreas bastante alteradas pelo homem. Muitas espécies foram domesticadas. Duas destas, H. annuus L., o girassol comum, e H. tuberosus L., o “Jerusalem artichoke”, são plantas alimentícias, o primeiro devido ao óleo e à proteína dos grãos e o último pelas suas raízes. Além disso, muitos girassóis são usados como planta ornamental.

O girassol cultivado é uma planta anual, geralmente de haste única e com uma inflorescência no seu ápice. Nos cultivares comerciais o comprimento da haste situa-se entre 50 e 300 cm e, seu diâmetro, entre 1 e 10 cm. A inflorescência,característica da família Compositae, é um capítulo formado por inúmeras flores, arranjadas em arcos radiais. Sucessivos círculos, de um a quatro discos florais, abrem- se diariamente durante 5 a 10 dias, dependendo do tamanho do capítulo e da temperatura ambiente.

Apresenta sistema radicular do tipo pivotante, denominado de explorativo, o que significa que um grande volume de solo pode ser explorado com uma combinação entre raízes grossas e finas. Segundo observações de Gimenez e Ferreres (1986), a raiz principal atinge 2 m ou mais com certa facilidade. No início do desenvolvimento da planta há a formação de raízes laterais bem desenvolvidas que exploram as camadas superficiais do solo. Quando o solo apresenta características favoráveis como ausência de acidez excessiva tanto na camada superficial quanto em profundidade e não apresenta compactação ou obstáculos à penetração das raízes, elas se aprofundam, trazendo como benefícios a reciclagem de nutrientes, a menor sensibilidade à seca e maior resistência ao tombamento de plantas.

O pólen se move muito pouco pela ação do vento por causa de seu peso elevado. Ele contem protuberâncias que lembram espinhos, tornando-se adaptado para transporte por insetos. A abelha, principalmente a melífera, é o principal agente polinizador do girassol.

A tolerância tanto a altas quanto a baixas temperaturas contribui para a adaptação do girassol a diferentes ambientes. Apesar da temperatura ideal para uma maior produção estar entre 21 e 24ºC, a produção não se altera substancialmente quando fica entre 18 e 33ºC. As plantas jovens resistem a geadas; porém, durante o florescimento, tanto o girassol quanto seus polinizadores são afetados.

Clima e solo

O girassol não é planta altamente tolerante à falta de água mas, muitas vezes, produz satisfatoriamente em locais em que outras se apresentam seriamente prejudicadas. Isto se deve ao seu sistema radicular profundo e altamente ramificado. Apesar de ser planta resistente a períodos de seca, há duas fases em que a falta de água resulta em acentuado decréscimo na produção de grãos, a saber, entre a formação da inflorescência até o início do florescimento (20 dias anteriores ao florescimento) e o período de enchimento de grãos.

Desenvolve-se bem em solos com textura variando de arenosa a argilosa, não requerendo alta fertilidade para produzir satisfatoriamente. No entanto, é necessário que o solo não apresente problemas de acidez ou compactação e seja bem drenado. O girassol é resistente à alcalinidade dos solos mas não se desenvolve bem em pH ácido (abaixo de 5,0). A determinação do pH em CaCl2 da área deve ser feita antes de se planejar o plantio de girassol para que as devidas correções possam ser providenciadas

Requer temperaturas superiores a 4OºC para a germinação; no entanto a uniformidade na emergência exige, entre outros fatores, temperaturas de pelo menos 8OºC. No estado cotiledonar o girassol resiste a temperaturas entre -5 a -7OºC mas, após o aparecimento das primeiras folhas, a temperatura muito baixa provoca queima das mesmas; durante a floração pode haver aborto das flores tanto por morte do pólen como das abelhas, diminuindo a produção. Desenvolve-se razoavelmente bem sob temperaturas elevadas; porém, o teor e a composição do óleo se modificam, havendo um decréscimo no teor de óleo e do ácido linoléico.

Ventos fortes, principalmente no período de enchimento de grãos e depois de chuvas prolongadas provocam quebra de plantas, prejudicando a colheita e a qualidade dos grãos. Granizo, segundo a intensidade, sobretudo durante a maturação, pode provocar graves danos através do desgrane dos capítulos; em plantas verdes, pode causar lesões na haste, favorecendo a entrada de agentes patogênicos.

Sistemas de cultivo

Os solos diferem bastante nas suas características e, consequentemente, na escolha do manejo mais adequado. A produção deve ser programada de maneira a minimizar ao máximo o efeito da erosão pela água e pelo vento. A seleção de sistemas de cultivo e de métodos de manejo dos resíduos culturais são igualmente importantes. O manejo e a fertilização adequada resultarão em maiores produções que, por sua vez, produzirão uma maior quantidade de resíduos orgânicos. O manejo adequado deve resultar em boa cobertura do solo e a incorporação de grande quantidade de restos culturais; como consequência, o preparo de solo será simplificado, com redução no número das operações o que ocasiona diminuição dos efeitos deletérios da compactação e da deterioração da estrutura do solo.

Rotação refere-se à seqüência de culturas em anos agrícolas subseqüentes enquanto sucessão diz respeito à ordem de implantação das culturas em um mesmo ano agrícola. Para o estabelecimento da seqüência das culturas, tanto na rotação quanto na sucessão, deve-se levar em conta: o controle de girassol voluntário, controle de pragas, a umidade e a fertilidade do solo, o efeito do girassol sobre a cultura que o sucederá e o efeito da cultura precedente sobre o girassol.

Durante a operação de colheita é normal que algumas sementes caiam ao solo; uma perda de 45 kg/ha é considerada pequena mas corresponde a cerca de 10 vezes mais sementes que a recomendada para plantio. Boa parte dessa semente germinará e poderá causar problemas na cultura da sucessão, havendo necessidade de controle desse girassol voluntário.

A produção de girassol tem uma tendência a ser maior quando plantado após leguminosas; as culturas graníferas, como milho e soja, são as melhores a serem plantadas antes do girassol uma vez que elas são imunes à maior parte dos fungos e plantas daninhas que parasitam o girassol.
Exemplos práticos mostram que na rotação milho-girassol ambas as culturas se beneficiam pela diminuição da incidência de pragas e moléstias e pela melhoria das condições do solo; a sucessão soja-girassol melhora em cerca de 15% a produção das duas culturas, enquanto o milho após girassol produz, em média, 30% a mais. O cultivo intercalar pode ser feito com milho, feijão, café, citrus.

O intervalo entre plantios de girassol em um esquema de rotação vai depender, muitas vezes, do tipo de patógeno existente na cultura do girassol. No caso de ferrugem e alternaria, que exigem restos de girassol para sobreviver, 2 anos é suficiente; para fungos de solo, como esclerotinia e míldio, a exigência passa para um mínimo de 5 anos, com o plantio de culturas não hospedeiras.

O resíduo de herbicidas utilizados na cultura anterior pode danificar o girassol, como é o caso da atrazina, da simazina e do 2-4 D.

Preparo do solo, época de semeadura e plantio

O preparo de solo deve possibilitar o aprofundamento das raízes do girassol. Pode ser utilizado o convencional composto por uma aração e duas gradagens ou aquele que for mais adequado às condições de solo do local; dá-se preferência à semeadura na palha. O plantio direto pode ser adotado desde que o solo esteja em condições para recebê-lo.

A época de semeadura é variável dependendo das condições de clima e do sistema de manejo a ser adotado. Para a maior parte do Estado de São Paulo recomenda-se o plantio em fevereiro, podendo-se estender até meados de março; em áreas de reforma de canavial é possível os meses de setembro a novembro, no entanto, o excesso de chuvas no período pode levar a problemas com doenças, com a polinização e o pegamento das flores.

É extremamente importante uma boa classificação das sementes para um ajuste adequado da semeadora; o preparo do solo deve ser o melhor possível, de modo a permitir o aprofundamento das raízes do girassol para garantir um bom suprimento de água e dificultar ou mesmo impedir o tombamento das plantas; além disso, a emergência uniforme é fator importantíssimo no desempenho final da cultura. Assim, solos com compactação de sub-superfície devem passar por escarificação ou aração profunda, dependendo das condições locais. É possível o plantio direto desde que o solo esteja adequado para receber esse tipo de manejo. Como práticas mínimas a serem utilizadas para controlar a erosão, o terreno deve ser arado cortando o sentido das águas e riscado seguindo as curvas de nível.

Entre os componentes que definem a produção de grãos por área está a população de plantas, a qual pode ser obtida variando-se o espaçamento entre linhas e/ou entre plantas. No entanto, a definição da população ótima, que no caso do girassol se situa entre 30 e 60 mil plantas/ha, depende de diversos fatores tais como: características do cultivar, condições de solo e clima, disponibilidade de irrigação, tipo da utilização da produção, etc. Para o plantio são necessários de 2,5 a 5 kg de sementes por hectare, dependendo do cultivar e da população de plantas a ser obtida, colocando-se de 3 a 6 sementes por metro na linha e um espaçamento entre linhas que pode variar entre 50 e 90cm. Quando a colheita for feita com a colhedora de milho, utilizar de 80 a 90cm entre linhas. Para o caso de cultivo visando adubação verde ou quando para a colheita for utilizada a colhedora de cereais o espaçamento deverá ser mais fechado, entre 50 e 70cm.

No Brasil, a semeadura mecanizada do girassol é realizada com equipamentos dotados de dosadores de sementes dos tipos: discos perfurados, pneumáticos e dedos prensores. Os dois últimos tipos, apesar de propiciarem uma melhor distribuição e serem pouco sensíveis à variação das dimensões das sementes, representam uma pequena parcela dos dosadores, estimada em cerca de 10%.

A semeadura de discos perfurados, como tecnologia de baixo custo, possui limitações quanto à velocidade de deslocamento e, principalmente, quanto à adequação das dimensões dos furos em relação às sementes.

O estabelecimento de uma população ótima, com sementes bem distribuídas, igualmente espaçadas, cobertas com no máximo 5cm de terra e com umidade suficiente para uma germinação uniforme é essencial para o bom estabelecimento da cultura . Lavouras mal estabelecidas resultam em distribuição desuniforme das sementes (até 30% de perda na produção); de emergência desuniforme, que passa a ser extremamente importante quando se prolonga por mais de 10 dias pois resulta em algumas plantas que, por germinarem após a maioria, não terão nunca desenvolvimento uniforme e compatível com as demais, dando como resultado algumas plantas fracas, mal desenvolvidas e com pouca ou nenhuma produção.

Nutrição mineral, calagem e adubação

O girassol tolera solos com pH acima de 7,5; no entanto, é extremamente sensível a solos ácidos. Em áreas com pH próximo a 4,0 as sementes sequer germinam; quando o fazem, as plantas resultantes têm menos de 50cm de altura e muitas vezes nem produzem sementes. Acima de pH 5,0 as plantas vão melhorando o desenvolvimento e a produção de grãos sendo que a pH 6,0 ou levemente acima (ideal) pode ser atingida a máxima produção.

É uma planta que se desenvolve razoavelmente bem em solos de média fertilidade; no entanto, altas produções só são obtidas sob solos corrigidos quanto à acidez, férteis. A deficiência em nitrogênio tem sido apontada como a desordem nutricional mais freqüente em girassol, limitando o crescimento e a produtividade. O nitrogênio é importante para o bom desenvolvimento da superfície foliar e para os componentes de rendimento, especialmente o número de aquênios. É muito importante assegurar uma nutrição adequada em nitrogênio antes da iniciação do botão floral, especialmente entre 20 e 40 dias após a emergência.

A visualização da deficiência de N no campo é, muitas vezes, difícil. Ela aparece primeiramente como uma redução no crescimento, seguido ou não por sintomas visíveis, os quais podem incluir uma clorose generalizada das plântulas e, das plantas, em estágios mais avançados de desenvolvimento, dando uma aparência desbotada ou “amarelada” ao campo.

A fertilização com N não é fácil de ser prevista uma vez que fatores como quantidade de N no solo, umidade e níveis de P no solo podem influenciar na disponibilidade do nitrogênio às plantas, o mesmo acontecendo com diferenças genéticas dos cultivares, as quais também podem ser importantes na resposta a diferentes níveis de N. Parece haver um aumento da eficiência de uso da água pelo girassol como consequência da fertilização com N; no entanto, no plantio em épocas com problemas de deficiência hídrica, a fertilização nitrogenada pesada deve influenciar negativamente na produtividade se o estresse de água ocorrer antes do período de maturação das sementes.

Após o nitrogênio, o fósforo parece ser o elemento que mais problemas traz para a cultura do girassol quando em baixos níveis de disponibilidade. A observação da deficiência por P é bastante difícil uma vez que acarreta, visualmente, somente uma diminuição no crescimento; em alguns casos, ocorre o aparecimento de alguns poucos sintomas necróticos nas folhas baixeiras e capítulos menores.

O potássio também é importante para o girassol, sendo responsável pela resistência da haste. A deficiência por K também é difícil de ser verificada visualmente, mas pode aparecer como uma clorose nas folhas baixeiras, especialmente nas bordas e na ponta da folha.

Dentre os micronutrientes, o boro destaca-se por sua importância, sendo fundamental para o enchimento dos aquênios . Solos que tenham recebido correções com calcário e/ou com teor de boro inferior a 0,26 ppm devem receber suplementação desse elemento, a qual pode ser feita:

  • no plantio, através de formulações que já incluam boro;
  • em pulverização foliar, realizada 4 semanas após a emergência, na dose média de 1,5 kg/ha de boro (diluir o boro em 300l/ha de água). Utilizar borax uma vez que o ácido bórico pode queimar as folhas.

Irrigação

O girassol requer uma emergência uniforme. Um dos fatores que contribui para que isso ocorra é a umidade suficiente para germinação. Após a emergência, a segunda fase crítica da cultura situa-se entre 30 e 50 dias após a emergência, no caso de cultivares de ciclo médio, quando a falta de água vai determinar um menor desenvolvimento da parte aérea e do potencial reprodutivo; da mesma maneira, temperaturas abaixo de 5oC acarretarão diminuição no desenvolvimento e na absorção de elementos minerais como o boro, podendo afetar os processos de diferenciação e levar à mal formação dos capítulos. Este também é um período de grande absorção de elementos minerais.

A terceira fase crítica acontece após o florescimento, na fase de enchimento de grãos (entre 70 e 90 dias), onde o bom suprimento de água leva à manutenção da área foliar fotossinteticamente ativa, resultando em grãos mais cheios e com maior teor de óleo.

De uma maneira geral, há necessidade de água suficiente para emergência uniforme, seguido por pelo menos 300mm de chuva até o florescimento, bem distribuídos, e de pelo menos 80mm após o florescimento, na fase de enchimento de grãos, para que a planta não sofra deficiência hídrica. Durante o florescimento não há necessidade de se fazer irrigações suplementares.

Colheita

A colheita, quando manual, pode ser feita a partir da maturação fisiológica, com o uso de facão ou tesoura de poda, cortando-se na base do capítulo, os quais são levados ao terreiro para completar a secagem, sempre virados para baixo para favorecer a secagem do capítulo antes dos grãos.

A mecanizada, imprescindível em áreas maiores, pode ser feita tanto pela colhedora de cereais quanto pela de milho, com pequenas adaptações, permitindo uma maior eficiência no aproveitamento das máquinas e implementos.

Selecionar máquinas, entre as disponíveis, para diferentes extensões da lavoura. Deve-se planejar o plantio, escalonado de acordo com a capacidade de colheita, para que toda a área seja colhida no ponto ideal ou próximo a ele, evitando-se atrasos principalmente em locais muito sujeitos ao ataque de pássaros. Não esquecer de compatibilizar a colheita com o transporte do produto uma vez que, pelo fato do grão de girassol ser bem mais leve que outros grãos oleaginosos como a soja, a capacidade de transporte é metade da realizada para a soja, por exemplo.

Na fase de colheita a planta apresenta-se com coloração castanha, com os grãos apresentando ao redor de 15% de umidade. A colheita antecipada pode ser feita em casos de intenso ataque de pássaros; no entanto, ela deve ser realizada com maior rigor na regulagem das máquinas para evitar quebra de sementes e aumento na quantidade de impurezas no produto. Por outro lado, a colheita atrasada pode ocasionar perdas por quebra dos grãos devido à umidade muito baixa, evolução de doenças, ataque de pássaros, desprendimento de grãos dos capítulos, perdas na colheita devido à quebra de plantas por estarem muito secas.

Perdas na colheita

A maioria das perdas podem ser reduzidas ou minimizadas através de medidas simples. Uma das perdas mais freqüentes relaciona-se ao desenvolvimento desuniforme da lavoura e ao cultivar utilizado. Lavouras desuniformes dificultam ou mesmo impedem a correta regulagem da altura de corte, o que pode fazer com que alguns capítulos (de plantas mais baixas, acamadas ou quebradas) passem por baixo da plataforma sem entrar no processo de trilha. Por outro lado, plantas muito altas acabam sendo jogadas para fora da plataforma após o corte; isso pode ser evitado/minimizado através da colocação de laterais altas e bem adaptadas.

A rotação do cilindro e a abertura do côncavo devem ser bem ajustadas para que alguns grãos não fiquem aderidos aos capítulos e acabem sendo jogados fora como impurezas.

Outro tipo de perda bastante freqüente é aquela que ocorre durante a limpeza do produto colhido. Ela depende de fatores como o tipo de colhedora, a abertura e o tipo das peneiras, velocidade de trabalho, pressão da ventilação, umidade do material colhido, altura de corte, etc.

Um fator bastante importante, principalmente na produção de sementes, vem a ser a quebra e o descascamento dos grãos, o que contribue para o ataque de microorganismos, a menor qualidade e a depreciação do produto final. A velocidade da colhedora, o teor de umidade dos grãos e a rotação do cilindro são os principais responsáveis por esse tipo de problema.

Produto final com teor de impurezas acima de 3% encarece o transporte uma vez que a palha é mais leve que o grão, causam problemas na comercialização e depreciam o produto. A diminuição na quantidade de impurezas está relacionada à regulagem adequada das máquinas, colheita na época certa e lavouras uniformes.

A colheita mal feita pode representar o fracasso econômico de uma cultura bem conduzida, com potencial para altas produções de grãos; o uso de máquinas não adaptadas, condições climáticas desfavoráveis e cultivares inadequados podem dificultar sua execução. Deve-se ressaltar alguns fatores que podem interferir no processo de colheita:

Desuniformidade da lavoura

Lavouras desuniformes dificultam ou até mesmo impedem a regulagem da colhedora. As principais causas da desuniformidade são as características genéticas do cultivar utilizado, preparo de solo, distribuição das sementes, profundidade da semeadura, heterogeneidade do solo.

Acamamento e quebra de plantas

O acamamento normalmente está relacionado a solos rasos, compactados na sub-superfície ou com subsolo ácido; a quebra de plantas relaciona-se, mais freqüentemente, à presença de doenças. Ambos os problemas dificultam a colheita e aumentam as perdas.

Desgrane natural dos grãos

Este é um fator dependente do cultivar utilizado. Alguns apresentam os grãos com maior facilidade ao desgrane natural, o que pode representar um problema grave quanto mais se atrase a colheita.

Peso de grãos

O girassol apresenta grãos leves quando comparado com culturas como milho e soja, que varia, na média, entre 25 e 85g por 1000 aquênios, dependendo do cultivar, das condições de solo e clima, das condições tecnológicas adotadas.

Teor de umidade

Na colheita deve-se levar em conta não só a umidade nos grãos como, também, a existente nas hastes, a qual é sempre maior que a dos grãos no ponto de colheita (grãos entre 11 e 18% de umidade). Essa umidade das hastes pode acabar passando, em parte, para os grãos durante o processo de colheita, o que acaba por dificultar a limpeza, facilitar o esmagamento dos grãos e aumentar as impurezas do produto final.

Excesso de chuvas na colheita

Em algumas regiões, dependendo da época de plantio de girassol, as chuvas são freqüentes e continuadas durante o período de colheita, dificultando tanto a secagem dos grãos e do capítulo, resultando em atrasos na colheita, intensificação na evolução das doenças e a perda de qualidade do produto final.

Dano por pássaros

Algumas áreas podem ser mais susceptíveis ao ataque de pássaros como periquitos, papagaios e até mesmo pardais; determinadas épocas do ano também estão mais sujeitas a danos por pássaros. Para minimizar os danos sugere-se o plantio em áreas com mais de 15ha e realização da colheita o mais rápido possível.

Plataformas colhedoras de girassol

A colhedora deve ser regulada para colheita o mais perto possível da inserção do capítulo; plantas muito altas, quebradas ou acamadas, desuniformes dificultam a regulagem. A velocidade da colhedora deve oscilar entre 4 e 5 km/h. Existem plataformas girassoleiras especiais e adaptadas.

As especiais são compostas por uma unidade de corte, bandejas receptoras, molinete e a proteção lateral.

No Brasil tem-se utilizado plataformas de milho e de soja adaptadas para a colheita de girassol. Em ambos os casos há necessidade de colocação de proteção nas laterais e na parte posterior.

Para a colhedora de milho não há necessidade de plataforma girassoleira; o plantio deve ser feito com um espaçamento mínimo de 80cm entre as linhas, porém, a velocidade de operação pode ser de até 9 km/h. Para usar a colhedora de soja é necessária a colocação de bandejas na frente da plataforma e a colhedora deve funcionar a uma velocidade de 4 km/h.

Ajustes da colhedora

  • Velocidade da colheita: determinada pelo tipo de colhedora.
  • Rotação do cilindro: Deve-se utilizar o cilindro de barra. Variar a velocidade de rotação entre 350 e 500 rpm; quanto mais alta a umidade da planta, mais baixa a velocidade para não danificar os grãos. A existência de capítulos com grãos aderidos indicam necessidade de se aumentar a velocidade e diminuir a abertura do côncavo. Por outro lado, muitos grãos quebrados/descascados indicam necessidade de se diminuir a velocidade e aumentar a abertura do côncavo.
  • Abertura entre o cilindro e o côncavo: deve estar entre 20 e 25mm na entrada e entre 18 e 20mm na saída, dependendo do tamanho e forma dos capítulos e do teor de umidade da cultura.
  • Ventilação: Deve ser menor que a utilizada para soja e para milho em virtude do baixo peso específico dos grãos de girassol.

Armazenamento

Armazenar em local seco e bem ventilado. Tomar cuidado com roedores. Os grãos devem ser armazenados com no máximo 11% de umidade para evitar o desenvolvimento de bolores, depreciando o produto e tornando-o impróprio ao consumo.

O armazenamento de sementes por longos períodos deve ser feito em câmara seca e fria (10-15ºC), com as sementes acondicionadas em sacos de papel; geralmente, logo após a colheita, os aquênios apresentam dormência, que pode ser variável na intensidade dependendo do cultivar e da época de colheita, entre outros fatores; a dormência pode ser quebrada através do armazenamento dos aquênios a 10ºC ou a 40ºC.

Aplicação do girassol na alimentação

O principal produto do girassol é o óleo extraído dos aquênios. A qualidade do óleo para a alimentação humana está intimamente relacionada à composição em ácidos graxos e os efeitos desse óleo para a saúde humana vão depender não só de sua composição mas, também, da quantidade ingerida. Girassol produzido sob temperaturas mais amenas, ao redor de 20oC, contem elevado teor de ácido linoléico, o qual é um ácido graxo essencial ao organismo humano, isto é, ele necessita ser ingerido na dieta uma vez que o organismo não consegue sintetizá-lo. Os compostos derivados de ácidos graxos polinsaturados essenciais (ácidos linoléico e linolênico) são importantíssimos na prevenção de doenças cardiovasculares, o que vem reforçar a importância da ingestão de óleos com altos teores de ácidos graxos polinsaturados como é o caso do óleo de girassol. A dieta rica em ácidos graxos polinsaturados favorece o aumento das proteínas de alta densidade (HDL), a redução do colesterol plasmático e redução das proteínas de baixa densidade (LDL e VLDL), contribuindo para a prevenção da aterosclerose e dos acidentes cardiovasculares. O óleo bruto de girassol, extraído a frio, vem sendo usado no tratamento da esclerose múltipla.

Além do óleo, as amêndoas de girassol também contêm elevado teor de proteína (Tabela 4), com boa concentração de aminoácidos essenciais (Tabela 5). Essa proteína pode ser utilizada como ingrediente alimentar na forma de farinha, isolado e concentrado protéico. A farinha contem 63% de proteína, o concentrado 75% e o isolado, 90%. Outros produtos protéicos, derivados do girassol, também podem ser utilizados como suplementos nutricionais; esse é o caso da proteína texturizada, que dá origem à “carne” de girassol à semelhança com a de soja, e o “leite” de girassol, de sabor bem mais agradável que o de soja.

Tabela  4- Composição média de sementes secas de girassol

Componente Teor percentual médio
___________________________________________________________________________
Água 4,8
Proteína 24,0
Óleo 47,3
Carboidratos totais 19,9
Resíduo mineral (cinzas) 4,0
___________________________________________________________________________
Mineral Teor em mg/100g
___________________________________________________________________________
Cálcio 120,00
Fósforo 837,00
Ferro 7,10
Sódio 30,00
Potássio 920,00

Tabela 5 – Composição de aminoácidos essenciais dos principais farelos oleaginosos e do padrão FAO (em g/16 g de nitrogênio)
Aminoácidos essenciais FAO Girassol Soja Amendoim Canola
Isoleucina 6,3 4,3 4,5 3,4 4,0
Leucina 8,8 6,4 7,8 6,4 6,8
Lisina 7,0 3,6 6,4 3,5 5,7
Metionina 3,4 1,9 1,3 1,1 2,1
Fenilalanina 5,7 4,4 4,9 5,0 4,0
Treonina 5,1 3,7 3,8 2,6 4,4
Triptofano 1,7 1,4 1,3 1,0
Valina 6,8 5,1 5,0 4,2 5,2

Fonte : Mandarino, 1992.

Seguidores da dieta natural preconizam a ingestão diária de amêndoas de girassol como forma de prevenir a senilidade. A justificativa inclue o alto teor de fósforo dos aquênios (Tabela 4), o qual é o “alimento” do cérebro.
O farelo desengordurado de girassol é comparável a outros farelos oleaginosos (Tabela 6), sendo fonte rica em cálcio e fósforo, vitaminas do complexo B e vitamina A . É composto por proteína de alta qualidade, facilmente digerível (90%) e tem um elevado valor biológico (60%).
As farinhas desengorduradas, os concentrados e os isolados protéicos de girassol possuem um considerável potencial nutricional devido à ausência de fatores tóxicos e ser uma fonte rica em cálcio, fósforo e ácido nicotínico.

Tabela 6 – Comparação entre a composição média do farelo de algumas oleaginosas, após a extração do óleo com solvente
Oleaginosas Proteína Fibra bruta N-livre Cinzas Lipídios
Girassol 50,3 11,6 26,7 8,3 3,1
Algodão 46,0 12,5 34,9 6,8 2,3
Amendoim 51,8 14,3 27,7 4,9 1,3
Soja  52,4 5,9 33,8 6,6 1,3

 

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