Projeto de preservação de orquídeas nativas da Mata Atlântica foi um dos selecionados entre 150 projetos de cinquenta países
Por Tânia Rabello
Quando se fala em conservação da Mata Atlântica – o quinto bioma mais ameaçado do mundo, com apenas 7,3% da sua área original –, uma das primeiras ideias que vêm à mente é replantar árvores nativas. Mas algumas espécies que ali vicejam, embora de porte bem menor, são tão importantes quanto um gigante jequitibá.
Estamos falando das orquídeas.
E acrescentando que o Jardim Botânico Araribá (JBA) dedica especial atenção a elas, em seu Orquidário Paulino Recch, que está em estruturação no Sítio Duas Cachoeiras (SDC), em Amparo (SP), em parceria com a Clonagri, um viveiro de Artur Nogueira (SP) especializado em micropropagação de mudas, de propriedade de Jean Marie Veauvy e Cristina Veauvy.
Justamente por causa deste projeto tão especial, de multiplicação e reintrodução na natureza de orquídeas nativas da Mata Atlântica, o JBA foi um dos selecionados, entre mais de 150 participantes de 50 países, pelo Global Fund do Botanic Gardens Conservation International (BGCI), do Reino Unido.
Este fundo global distribui 40 pequenas doações, que somam mais de US$ 82 mil, voltadas a impulsionar a conservação de plantas, especialmente em jardins botânicos de menor porte. Segundo o BGCI, o fundo dá preferência a jardins botânicos situados em países em desenvolvimento e em hotspots de biodiversidade.
O JBA recebeu uma parte dessas doações, com o apoio também do Minnesota Landscape Arboretum Grants para impulsionar os trabalhos do Orquidário Paulino Recch, projeto que surgiu pela consciência da importância das plantas epífitas (epi = em cima; fito = planta) como as orquídeas e bromélias na manutenção e conservação da Mata Atlântica.
“As orquídeas e bromélias têm uma função ecológica essencial na floresta, ao crescerem nas partes mais altas das copas, apoiadas nos troncos das árvores”, conta o educador ambiental Guaraci Diniz. “Pelo formato de suas folhas, acumulam água e abastecem e servem de local de reprodução e abrigo de vários insetos que habitam o dossel da floresta e fazem a polinização das árvores maiores, além de proporcionarem material para a confecção dos ninhos. Essas espécies também atuam na ciclagem de minerais e na produtividade primária, contribuindo para o aumento da diversidade biológica e da biomassa daquela comunidade ”
Assim, se as pequeninas orquídeas são retiradas dessa harmônica teia de vida, as espécies vegetais de grande porte correm o risco de não subsistirem.
Os recursos cedidos pelo Global Fund/BGCI e Minnesota Landscape Arboretum Grants serão destinados à reprodução controlada das orquídeas nativas da Mata Atlântica, formando mudas que posteriormente serão reintroduzidas em áreas de conservação. “O projeto aprovado prevê, para isso, o treinamento da equipe do JBA e, além disso, trabalhos de educação ambiental para o público em geral sobre a importância das epífitas”, continua Guaraci.
A ideia é tentar identificar, coletar sementes e multiplicar o maior número possível de espécies dentro do Orquidário Paulino Recch, reintroduzindo posteriormente as mudas na mata.
Se alguém ficou curioso sobre o nome do orquidário, trata-se de uma homenagem que o JBA prestou ao médico de Amparo, que, desde os anos 1910, atuava como botânico, entomologista, cientista e um grande criador de hibridos de orquídeas do Estado de São Paulo. Em breve, aliás, ele deve ganhar uma biografia, já que o JBA busca patrocínio, pela Lei Rouanet, para esta finalidade. Aguardemos!
*imagens de aquarelas, documentos e anotações de Paulino Recch, cedidas pelo Prof. Roberto Pastana Teixeira Lima – Historiador e Arquiteto