Sementes: Tudo que você precisa saber

Sementes: Tudo que você precisa saber

Como disse um anônimo poeta: As sementes são tão importantes que toda a natureza se enche de flores para recebê-las.

Por  Cynthia de Oliveira Frank

 

Quem nasceu primeiro: a semente ou o pé de alface? Essa questão sempre presente nos leva a pensar um pouco mais além do simples plantar para se alimentar. Na verdade, todas as hortaliças podem dar suas próprias sementes através das flores e dos frutos que produzem. E como chegar até aí? Em primeiro lugar obtendo boas sementes originais em casas especializadas. Certifique-se que sejam das chamadas “variedades” e não sejam sementes híbridas que são resultado de cruzamentos e podem não se reproduzir. Verifique também a validade da embalagem e o percentual de germinação do lote das sementes que serão seu ponto de partida.

Como explicar que de um minúsculo grão possa nascer uma imensa árvore? A força invisível e misteriosa de uma semente é uma das maravilhas da Natureza e está presente em cerca de 300.000 espécies de plantas existentes em todo o planeta. Os membros de cada uma dessas espécies são incontáveis assim como as sementes que cada flor oferece. Imagine a explosão de vida que temos ao nosso redor a cada instante!

Insetos e vento: os agentes que criam a vida

Na verdade a vida da planta começa com a transformação da flor em semente o que ocorre através de dois processos: polinização e fertilização.

Na polinização os insetos e o vento são os responsáveis pela transferência do pólen do órgão masculino da flor (antera) para o órgão feminino (estigma). As flores assim polinizadas são mais vistosas talvez por terem a intenção de chamar a atenção dos insetos, seus colaboradores. Já aquelas flores que são polinizadas pelo ventos são em geral pequenas, sem aroma acentuado e repletas de um pólen leve que flutua como vento.

Após a polinização tem início a fertilização da flor. Nesse processo, os grãos de pólen permanecem no órgão feminino a uma certa distância das células femininas do ovário. Para
chegar lá o pólen precisa “viajar” por um tubo polínico que vai direto aos óvulos da flor. Nesse ponto, uma célula masculina se funde com esses óvulos produzindo o embrião que dará origem a uma nova semente.

Os centros de origem da vida

No planeta terra as sementes tiveram origem de plantas nascidas nos chamados centros de origem, locais onde muitos vegetais surgiram e tiveram um desenvolvimento especial. A enorme diversidade desses centros deu origem às culturas tradicionais de alimentos que se espalharam pelo mundo.

Da Índia veio o arroz, da Etiópia o café, do México o milho, da Malásia a banana, da China o feijão, do Brasil a mandioca e assim cada local ou fonte alimentar ofereceu o melhor de si ao planeta. Para se ter uma idéia, a Índia tinha 3000 variedades diferentes de arroz, hoje reduzidas a apenas 13.

Produção solidária

Produzir sementes pode induzir à uma rede de troca com pessoas que compartilhem o mesmo interesse. Caso você tenha tido sucesso com a produção de sementes de tomate, por exemplo, poderá oferece-las ou trocá-las com algum outro “sucesso” do seu vizinho ou amigo.

Resgate do nativo

Observe sempre as hortaliças rústicas e nativas de sua região e tente obter sementes delas. O Caruru (Amaranthus Spp.) é uma excelente fonte de cálcio e ferro (mais do que o espinafre) e quase sempre é considerado mato nos canteiros onde nasce espontaneamente.

E como obter sementes?

Existem dois meios: comprá-las em casas especializadas ou plantar e deixar alguns pés crescerem até darem suas próprias sementes. Na maioria dos casos, os dois métodos podem andar juntos ou seja, você pode comprar sementes e a partir delas chegar a obter novas sementes.

Produção própria

Além de proporcionar um belo espetáculo, plantar para obter sementes possibilita que os vegetais mantenham suas características originais garantindo a contínua reprodução das espécies. Contudo, sementes assim multiplicadas podem não dar a mesma garantia de germinação das sementes encontradas no mercado. Assim, o primeiro passo para obter sua própria semente é reservar os melhores e mais sadios pés da hortaliça que você deseja ver semear (reserve sempre mais do que um pé para favorecer a polinização) e aguardar o ciclo até que a planta pendoe. Essa técnica de seleção chama-se roguing e é o ponto de partida para se obter boas sementes.

Outro cuidado básico: na hora de comprar as sementes originais, certifique-se que sejam das chamadas “variedades” e que não sejam sementes híbridas. Essas são resultado de cruzamentos e podem não se reproduzir.

Mãos na terra

Escolhida a semente, o passo seguinte é coloca-la na terra através de sementeira ou de plantio direto no canteiro (veja tabelas).

Se o plantio exigir sementeira, faça uma mistura com 1/3 de terra, 1/3 de adubo (esterco, húmus de minhoca) e 1/3 de areia. Peneire, coloque em bandejas próprias ou copinhos com furos de escoamento para água e semeie. Os recipientes devem ficar em local claro e coberto até que as plantinhas estejam prontas para o transplante.

Transplante

Quando as mudinhas já estiverem formadas, com cerca de 5cm de altura (veja tabela com a especificação para cada caso), é hora de saírem da sementeira e irem para o canteiro definitivo (já adubado, molhado, nivelado e sem ervas invasoras). Ao retirá-las dos recipientes todo cuidado é pouco. Tente não puxá-las pelas folhas, pois podem arrebentar, e procure manter a raiz no torrão.

Essa operação deve ser rápida para que as mudas não sofram danos. E atenção: nunca faça transplantes sob sol intenso e não dobre a raiz das mudinhas ao colocá-las na terra, pois isso pode prejudicar profundamente o desenvolvimento da futura planta.

Plantio direto no canteiro

Há hortaliças que não se beneficiam com o transplante e devem ser plantadas diretamente no canteiro definitivo (veja tabelas). Nesse caso, a semeadura deve ser feita em linhas paralelas, de profundidade variável conforme a hortaliça.

Além da semeadura por linhas, o plantio direto também pode ser feito em pequenos berços.

Rega

Seja na sementeira ou no canteiro, a rega deve ser diária, sem encharcamento. Se possível, molhe sempre no final da tarde para que as mudas aproveitem melhor a irrigação.

Cobrir o canteiro com palha, folhas secas, pó de serragem, ajuda a conservar a umidade e é muito saudável para as plantas.

A hora da produção própria

Além de proporcionar um belo espetáculo, plantar para obter sementes possibilita que os vegetais mantenham suas características originais, garantindo a contínua reprodução das espécies. Contudo, sementes assim multiplicadas podem não dar a mesma garantia de germinação das que são encontradas no mercado. Por isso, o primeiro passo para obter uma boa semente é reservar os melhores e mais sadios pés da hortaliça que você deseja ver semear. Deixe, sempre que possível, um mínimo de 20 pés de cada hortaliça escolhida. Isso porque um número muito pequeno de plantas pode gerar a chamada “seleção negativa” que restringe a base genética das futuras sementes. Além disso, quanto menor o número de pés em flor, mais restrita a polinização por parte dos insetos, principais agentes de formação das sementes.

Colheita

As sementes estão prontas para colheita quando o fruto carnoso (abóbora, tomate, etc) ou seco (alface, brócolos, etc) amadurece completamente. Colha sempre em dias sem chuva, pois sementes úmidas demoram mais a secar e podem deteriorar.

Secagem

Após a colheita, retire as sementes das vagens ou dos frutos, limpe-as (frutos carnosos devem ter suas sementes lavadas) e inicie a secagem. De forma geral, as sementes são expostas ao sol da manhã, sobre lonas de cor clara (a cor preta nunca deve ser utilizada pois ‘esquenta’) estrados, telas, mesas ou panos. O tempo médio para a secagem é de 48 horas.

Para testar se estão no ponto, dobre-as. Se quebrarem facilmente é porque já estão secas. No caso de sementes mais duras, finque a unha em sua superfície. Não ficando marca é sinal de boa secagem.

Seleção

Para armazenamento ou plantio imediato, selecione as sementes de melhor aparência, que não estejam quebradas, furadas ou indicando qualquer tipo de deterioração. Também é importante retirar impurezas como galhos, terra, etc.

Conservação

Mantenha suas sementes em local fresco, seco e com pouca luminosidade. Os recipientes devem ser limpos, secos e bem fechados pois quando expostas às condições ambientais as sementes perdem o potencial de germinação.

Os melhores materiais para a conservação de sementes são as embalagens impermeáveis: envelopes aluminizados, plásticos, latas ou vidros (optando pela armazenagem em vidros, lave-os bem e seque no forno por meia hora. Isso garante uma secagem mais completa e uma melhor higienização). Não esqueça: é fundamental que, ao ser armazenada, a semente esteja bem sequinha.

Sementes que não podem ser guardadas são as chamadas recalcitrantes, como manga e abacate, que possuem alto teor de umidade e, quando estocadas, mofam ou apodrecem. Por esse motivo, devem ser plantadas o mais rápido possível.

Processos especiais para tomates e pepinos

Uma técnica usada para quem quer obter boas sementes de tomate e pepino é provocar artificialmente o seu processo de fermentação. Isso porque cada semente dessas está dentro de um saco gelatinoso que a protege e impede que ela germine antes da hora ou dentro do próprio fruto. Além de remover esse gel, a fermentação também pode matar doenças que estejam instaladas nas sementes. Veja como fazer:

  1. Retire as sementes de dentro do tomate ou pepino e as esprema colocando a massa gelatinosa dentro de uma vasilha;
  2. Coloque água suficiente apenas para cobrir as sementes (muita água impede a fermentação);
  3. Mexa a mistura duas vezes ao dia, deixando-a fermentar por cerca de três dias;
  4. Durante esse período a mistura pode exalar um cheiro forte, próprio de fermentação (lembre-se que esse processo é saudável e para o bem das próprias sementes);
  5. Um mofo branco ou cinza aparecerá na superfície. Quando essa camada a cobrir completamente, interrompa o processo;
  6. Coloque água suficiente para dobrar o volume da mistura e remexa-a vigorosamente. As boas sementes assentarão no fundo da vasilha deixando que mofo, bagaço e sementes ocas ou estragadas fiquem na superfície e possam ser dispensadas;
  7. Se preciso adicione mais água e repita o processo até que permaneçam somente as sementes limpas;
  8. Para secar, coloque-as num coador ou peneira, enxugando o fundo com uma toalha para remover a sujeira. Depois disso, deposite-as num prato de vidro ou cerâmica para secar à sombra;
  9. Para assegurar a secagem e evitar que as sementes grudem umas nas outras, mexa-as constantemente;
  10. Caso não vá plantá-las imediatamente, guarde-as em recipientes adequados (veja “Conservação”). Sementes de tomate duram cerca de 4 anos e as de pepino chegam aos 10 anos quando guardadas bem secas.

Semente dorme?

Muitas vezes uma semente pode não germinar mesmo estando saudável. Isso devido a um fenômeno chamado dormência. E por que isso acontece?

Em primeiro lugar devido a uma espécie de proteção natural chamada dormência primária que faz com que as sementes aguardem o momento certo e a condição ideal para sua germinação. Umas aguardam as chuvas, outras o calor das estações mais quentes, mas todas procuram não germinar antes da hora.

O segundo tipo de dormência é chamado de secundária e é causado por condições adversas. Por exemplo, numa condição de falta de água, sementes já próximas da colheita se retraem e endurecem para se proteger dos fatores climáticos. Também secagens muito repentinas após a colheita podem deixar as sementes dormentes.

E como despertá-las?

As chamadas quebras de dormência ativam novamente o potencial de vida das sementes. Tratamentos que alternam alta e baixa temperatura, banhos em água fria, resfriamentos em geladeira são alguns dos métodos recomendados.

Exemplo: sementinhas de alface ou almeirão podem ser despertadas ficando de molho em água por 48 horas dentro da geladeira. Após esse período devem ser plantadas imediatamente.

Cenoura, brócolis, couve e repolho não devem ficar de molho. Basta colocar em geladeira, dentro de um recipiente fechado por dois dias.

Quebra de dormência em sementes de árvores

No caso de sementes florestais os métodos são um pouco diferentes. Sementes com a parte externa muito dura como as das cássias ou canafístulas (Cássia grandis) precisam ser lixadas com lixa número 50 e colocadas em uma vasilha comágua fervente por um ou dois minutos. Em seguida colocar água fria e deixa-las despertando por dois dias, trocando a água a cada 8 horas. Retirando-as do banho, semear em seguida (veja o passo-a-passo para plantio de sementes de árvores).

Esse tipo de procedimento só vale para sementes que apresentam o revestimento externo muito duro. As levíssimas sementes aladas como as dos ipês (Tabebuia alba, etc.) não necessitam desse processo. Podem apenas ser expostas ao sol por cerca de 6 horas e semeadas diretamente nos saquinhos.

Árvores pedem uma semeadura à altura

De modo geral as sementes de árvores precisam passar pela quebra de dormência antes de serem plantadas (veja “quebra de dormência em árvores”). isso para retirar os inibidores de germinação que impedem que elas germinem dentro dos frutos-mãe, mas que na hora da semeadura em saquinhos não devem estar presentes. Veja o passo a passo:

  1. tenha em mãos saquinhos de plástico com furos de drenagem, próprios para mudas, no tamanho aproximado de 25cm de altura x 12cm de largura (você encontra nas lojas especializadas);
  2. coloque uma mistura de 1/3 de terra, 1/3 de adubo (humus ou esterco) e 1/3 de areia;
  3. faça a quebra de dormência, se necessário;
  4. ponha a semente na terra a 1 ou 2 cm de profundidade;
  5. regue uma vez ao dia deixando o recipiente em local protegido, semi-sombreado;
  6. quando a muda estiver com 30 a 40cm de altura leve-a para a claridade do sol;
  7. ao atingirem de 80cm a 1m transplante-a para o local definitivo onde terá vida longa!

Teste a germinação

É muito simples testar o potencial de germinação das suas sementes evitando frustrações com o resultado do plantio.

Em primeiro lugar, encontre um local mais resguardado para as sementes brotarem. Arranje algumas tampas de vidro ou de lata, pratos ou vasilhas pequenas. Cubra-os com algodão, papel-toalha
ou areia e borrife água o suficiente, sem encharcar. Coloque as sementes sobre o substrato, borrifando-as duas vezes ao dia. Após um período que varia de 4 a 12 dias, faça a contagem.

Por exemplo, se foram colocadas 50 sementes para germinar e só 20 brotaram o percentual de germinação, evidentemente, é de 40%. Lembre-se que essa pode ser uma boa atividade para as crianças que gostam de novidades.

Quanto tempo dura uma semente?

Isso varia de espécie para espécie de hortaliça, mas todas são unânimes em um ponto: para ter vida longa precisam estar bem secas e guardadas em local sem excesso de calor, umidade e luminosidade.
Alguns exemplos de vida longa:

  • Abóbora: 4 a 6 anos;
  • Pepino: 7 a 8 anos;
  • Alface: 3 a 5 anos;
  • Cenoura: 3 anos;
  • Tomate: 4 anos;
  • Pimentão: 4 anos;
  • Brócolos e Couve-flor: 5 anos;
  • Salsa: 2 anos;
  • Feijão-de-vagem: 3 anos.

 

Seu comentário é muito importante

Leave a Reply

Your email address will not be published.