Por Tânia Rabello
O Jardim Botânico Araribá (JBA), de Amparo (SP), participou, no fim de julho, de uma videoconferência com vários outros jardins botânicos do mundo para levar à frente uma importante empreitada: ajudar, unidos, a combater as mudanças climáticas no Planeta. A iniciativa do encontro foi do Real Jardim Botânico de Madri (RJB), Espanha, que propôs aos participantes a criação do Laço Ibero-Americano de Jardins Botânicos contra a Mudança Climática.
Segundo a assessoria de imprensa do jardim botânico madrileno, “o objetivo é estabelecer bases de trabalho comuns em pesquisa, conservação, educação e disseminação para atuar sobre as mudanças climáticas”. Assim, logo na primeira videoconferência foram apresentadas e definidas as tarefas que cada um vem realizando e pode realizar para aliviar os efeitos do aquecimento global em suas respectivas áreas de conservação.
Os participantes
Além do jardim botânico espanhol e do JBA, participaram também o Jardim Botânico de Buenos Aires Carlos Thays (Argentina); o Jardim Botânico Rei David, de Pernambuco (Brasil); os Parques Municipais de Belo Horizonte (Minas Gerais, Brasil); a Fundação Zoobotânica (também do Brasil); o Jardim Botânico José Celestino Mutis, em Bogotá (Colômbia); o Jardim Botânico Joaquín Antonio Uribe, de Medellín (Colômbia).
Nós, do JBA
O educador ambiental Guaraci Diniz foi o representante do JBA na videoconferência. Além de apresentar ao grupo todos os projetos de conservação de espécies de árvores nativas em andamento no JBA e as parcerias que mantém, também mostrou o projeto educacional ambiental desenvolvido há anos no Sítio Duas Cachoeiras (SDC), onde fica o JBA. “Além de investir na restauração de ecossistemas, temos direcionado bastante energia na educação ambiental e na conscientização das pessoas quanto à necessidade de conservação do Planeta e como isso influencia na vida diária. As pessoas precisam entender o que são mudanças climáticas e por que elas estão acontecendo, para evitar que isso continue a ocorrer”, diz Guaraci. Ele também contou que destacou a necessidade de um trabalho conjunto, “em rede”, para levar à frente as iniciativas.
Monitoramento meteorológico
Outra sugestão abordada, conforme Guaraci, foi um projeto de instalar miniestações meteorológicas nos jardins botânicos para registrar indícios de mudança climática e troca de informações a respeito do assunto. Este trabalho, conforme o Jardim Botânico de Madri, já é realizado e foi apresentado por Adrián Izurzun, meteorologista do Jardim Botânico Carlos Thays e poderia ser estendido às áreas dos jardins participantes.
Segundo o RJB, de Madri, o Laço Ibero-Americano de Jardins Botânicos contra a Mudança Climática será coordenado por María Paz Martín, professora e pesquisadora do próprio RJB, que identificou projetos e publicações em que todos os jardins botânicos poderão colaborar em conjunto, pesquisando, preservando, educando e disseminando tudo o que possa estar relacionado aos efeitos das mudanças climáticas.
Propostas
Assim surgiram as primeiras propostas de trabalho em equipe de todos os jardins botânicos. Outra delas seria criar um projeto de monitoramento fenológico em cinco espécies vegetais, fazendo o mesmo em cada um dos jardins, coordenado pelo RJB. Além disso, mais duas propostas, sugeridas por Dubán Canal, diretor de pesquisa do Jardim Botânico de Medellín, relacionado a um censo de aves, para saber a incidência de mudanças em seus costumes migratórios, bem como um estudo de linhagens de plantas mais sensíveis às mudanças climáticas, seja em populações naturais ou nos próprios jardins aproveitando as diferenças de latitude. “Esta foi uma primeira reunião”, assinalou Guaraci. “Fizemos este contato para ver como poderíamos começar e todo mundo concordou com essas ações de restauração e educação; há trabalhos muito bons nos JB de Medellín e Bogotá”, citou o educador ambiental.
Pandemia e biodiversidade
Na mesma videoconferência, os representantes dos jardins botânicos comentaram sobre os efeitos da pandemia de covid-19 (o novo coronavírus) na rotina de suas instituições, relatando dificuldades, projetos pós-pandemia e gratas surpresas. Um dos projetos, mencionado pelo representante do Jardim Botânico de Bogotá, é a aposta no “emprego verde”, para revitalizar a economia local com a restauração e recuperação de zonas ambientais. Sob a covid-19, Guaraci conta que um dos participantes relatou o aumento da biodiversidade na sua área, em função da menor movimentação de visitantes por causa do isolamento social. “Com a pandemia, muitos observaram o aumento da quantidade da fauna nos jardins botânicos, principalmente aves, que são excelentes dispersores de sementes e contribuem para a restauração florestal”, comenta Guaraci.
Convite aceito, contra as mudanças climáticas
A partir dessa reunião com os representantes de vários jardins botânicos, o JBA acabou recebendo o convite – e, logicamente, aceitou – para se tornar membro da Climate Change Alliance of Botanic Gardens, ou em português, a Aliança de Mudança Climática dos Jardins Botânicos, iniciativa do Royal Botanic Gardens Victoria, do Canadá.
Segundo o jardim botânico idealizador da Aliança, a ideia é reunir organizações e amigos botânicos para “tomar medidas para proteger e permitir a adaptação de paisagens botânicas num cenário de mudanças climáticas”. “Trabalhando juntos, podemos proteger nossas preciosas paisagens botânicas.”
Ainda segundo o JB do Canadá, a Aliança para Mudança Climática dos Jardins Botânicos será a “voz de jardins botânicos comprometidos em todo o mundo”. “Juntos, abordaremos os impactos das mudanças climáticas nas plantas e paisagens e aumentaremos nossa capacidade de salvar vidas e este Planeta”, continuou. “Por meio dessa aliança, jardins botânicos e organizações afins em todo o mundo estão se unindo para proteger nosso planeta protegendo paisagens resilientes.
Nós, os jardineiros do mundo, dizemos que a hora de agir é agora.”