Composto Orgânico

Composto Orgânico

Introdução

compost3Trata-se de uma prática milenar que visa uma fertilidade orgânica duradoura tendo sido praticada por diversos povos, permitindo a produção sustentada de diversos cultivos ao longo de séculos, como por exemplo o arroz irrigado do extremo oriente. Nela aproveita-se tudo que é resíduo orgânico na fazenda para produzir o húmus de composto. Se observarmos a natureza podemos identificar nas grandes florestas, pequenas matas em formação ou mesmo um jardim em equilíbrio, a integração dos reinos, e observar o exemplo vivo do processo de compostagem que acontece diariamente. Todos os elementos que a compõe se integram a cada ciclo, e que imitamos quando fazemos o processo de compostagem. É também um grande exemplo de equilíbrio entre os elementos básicos que provêem a vida no planeta Terra: água, terra, ar e fogo; se em algum momento algum destes elementos não estiverem em equilíbrio, o todo fica comprometido de forma desestruturada.

O composto faz parte dos ciclos da vida do planeta: alimento colhido é processado – usado na alimentação – os resíduos são separados – estes resíduos são reprocessados nas pilhas do composto – o processo de compostagem os transforma e os estabiliza – o composto pronto é usado como adubo orgânico na produção de alimentos e novamente o alimento é colhido.

Porque fazer compostagem?

Permite o melhor aproveitamento de restos orgânicos com relação C/N desbalanceada, que juntos aproximam-se de uma C/N desejada (de 25/1).

  • Desinfeta os materiais orgânicos de doenças, pragas e ervas daninhas;
  • Afugenta ratos e camundongos, cobras;
  • Permite acumular e multiplicar matéria orgânica para uma aplicação posterior e estratégica.
  • Reduzem as perdas de nutrientes, disponíveis em resíduos subaproveitados.

Qualidades do composto

  • Fonte de lenta liberação de macro e micronutrientes como também de nutrientes orgânicos;
  • Excelente estruturador do solo, favorecendo um rápido enraizamento, formando grumozidade;
  • Aumento da capacidade de infiltração de água, reduzindo a erosão;
  • Grande ativador da vida do solo, responsável por todos itens de um solo fértil;
  • Permite o aumento do teor de matéria orgânica, aumentando também a capacidade de retenção de água no solo;
  • Aumenta a saúde e a resistência das plantas, que são enfraquecidas por adubos minerais.

Princípios da compostagem

A compostagem é uma seqüência de ações de microorganismos sobre a matéria orgânica, que a “digerem”. Este processo, desde o inicio até a maturação do composto, acontece em fases que podemos observar:

  • Primeira fase (termófila e mesófila): atuam principalmente fungos, bactérias , actinomicetos, protozoários e miriápodes; nela se destaca o “cozimento” e a decomposição da celulose e hemicelulose; a lignina continua sendo decomposta e será modificada mais lentamente;
  • Segunda fase (transformação): atuam principalmente, protozoários e minhocas; termina a decomposição de celulose, continua a de lignina e principia a síntese de ácidos húmicos;
  • Terceira fase (amadurecimento): besouros, lacraias e formigas; a síntese e ressíntese de húmus é concluída e estabilizada. Para uma boa atuação, deve-se ter equilíbrio, de ar e umidade, suficiente calor e um PH propício.

Matéria prima

A principio todos os restos vegetais e animais podem ser aproveitados; deve-se evitar apenas dejetos humanos e de animais carnívoros. Todo material orgânico é fonte de energia e de nutrientes para os organismos decompositores, sendo necessário, portanto, sabermos avaliar cada qual nas suas características.

  • materiais de rápida oxidação : rápido aumento da temperatura da pilha – amido. açúcar, vitaminas e aminoácidos (materiais mais úmidos, mais ricos em nitrogênio).;
  • materiais de lenta oxidação: hemicelulose, celulose, e principalmente lignina (materiais muito secos, ricos em carbono).

A relação C/N

OLYMPUS DIGITAL CAMERAAlém do carbono, o principal elemento que caracteriza a matéria prima é o nitrogênio; sua presença em certo grau é uma garantia de que os outros elementos importantes, como enxofre (S), fósforo (P), cálcio (Ca) e magnésio (Mg), potássio (K) e micro nutrientes (Fe, Zn, Cu, Mo, B, Mn e Cl), também estão presentes num grau proporcional. Por isso, ao invés de fazermos uma análise dos teores de todos esses elementos, só nos interessa, na prática, o teor de nitrogênio em relação ao teor de carbono (relação C/N). Materiais ricos em N terão C/N baixa; Materiais pobres em N terão C/N alta)

  • C/N ideal/média (25 a 30:1) nesta proporção os organismos decompositores tem o alimento balanceado não tendo que se desfazer de nenhum elemento para criar um equilíbrio.
  • C/N baixa (< 20:1) nesta proporção a decomposição equivale à podridão de um cadáver animal. O mau cheiro da podridão nada mais é do que a perda do excesso de N e S (cheiro amoniacal e sulfúreo). Para reduzir perdas pode se adicionar folhas e galhos secos, palhas ou serragem.
  • C/N muito alta (> 35:1) esta proporção constitui uma trava à franca atividade dos decompositores pela falta de N. O processo será lento e frio enquanto o excesso de C for dissipado. Para acelerar o processo basta acrescentar uma fonte rica em N (Esterco, cascas de frutas, folhas verdes).
 
MATERIAIS MAIOR QUANTIDADE DE NITROGÊNIO  MATERIAIS MENOR QUANTIDADE DE NITROGÊNIO 
plantas cultivadas  plantas nativas, de mata, campo ou cerrado
plantas verdes  plantas secas
plantas herbáceas  plantas arbustivas e arbóreas
folha, broto, flor e fruto (sementes)  haste, caule, ramo, galho, tronco e cascas
leguminosas e plantas aquáticas  demais famílias

Obs.: quando só se tem material com menor quantidade de N pode-se compensar essa falta plantando bancos de leguminosas para servir de fonte de N. Desde que os animais aceitem o material com menor quantidade de N, ele também pode ser usado como cama do gado, cavalo ou ovelhas para absorver a urina, rica em N.

Composição de alguns materiais empregados no preparo do composto

Material  M.O.   C/N  N%  P2O5  K2O 
Amoreira/folhas 86,08 13/1 3,77 1,07
Arroz/palha  54,34 39/1  0,78 0,58 0,41
Bagaço de cana 58,50 22/1 1,49 0,28 0,99
Bagaço de laranja 22,51 18/1 0,71  0,18 0,41
Banana/folhas 88,99 19/1  2,58 0,19  –
Banana/talos de cacho  85,28 61/1 0,77 0,15  7,36
Barbatimão/cascas esgotadas 91,32 35/1 1,54 0,17 0,30
Café/palha 93,13 38/1 1,37 0,26 1,96
Cana-de-açucar/bagaço 71,44 37/1    1,07  0,25 0,94
Capim colonião 91,03 27/1  1,87 0,53
Capim gordura – catingueiro 92,38 81/1 0,63 0,17  –
Capim limão (cidreira) 91,52 62/1 0,82 0,27   –
Cápsulas de mamona 94,33 44/1 1,18 0,29  1,81
Casca de arroz 54,55 39/1 0,78 0,58 0,49
Casca de semente de algodão 95,98 78/1 0,68  0,06  1,20
Crotalária juncea 91,42 26/1 1,95  0,40   1,81
Esterco de carneiro/ovelhas 65,22 32/1   2,13 1,28 3,67
Esterco de cavalo 46,00 18/1 1,44  0,53  1,75
Esterco de gado 62,11 20/1 1,27 1,04  1,37
Eucalipto/resíduos 77,60 15/1 2,83 0,35 1,52
Feijão guandu 95,90 29/1 1,81 0,59 1,14
Feijão-de-porco 88,54 19/1 2,55   0,50 2,41
Feijoeiro/palhas 94,68 32/1 1,63   0,29 1,94
Goiaba/sementes 98,69 48/1 1,13 0,36 0,40
Grama batatais 90,80 36/1 1,39 0,36
Grama seda 90,55 31/1 1,62 0,67  –
Inga/folhas 90,69 24/1 2,11 0,19 0,33
Lab-lab 88,46 11/1  4,56 2,08  –
Laranja/bagaço 22,58 18/1 0,71 0,18  0,41
Lenheiros/resíduos 39,92  30/1 0,75 0,60 0,42
Mamona/capsulas 94,60 53/1 1,18 0,30  1,81
Mandioca (folhas) 91,64  12/1 4,35  0,72
Mandioca (ramas) 95,26 40/1 1,31 0,35   –
Mandioca/cascas das raízes 58,94 96/1 0,34 0,30 0,44
Mandioca/raspas 96,07 107/1 0,50 0,26 1,27
Milho/palhas 96,75 112/1 0,48  0,38  1,64
Milho/sabugos 45,20 101/1 0,52 0,19 0,90
Mucuna preta 90,68 22/1 2,24 0,58 2,97
Palha de café 93,99 31/1 1,65 0,18 1,89
Palha de feijão 94,68 32/1 1,63 0,29 1,94
Palha de milho 96,75 112/1 0,48 0,38 1,64
Rami/residuo 60,64 11/1 3,20 3,68  4,02
Samambaia 95,90 109/1 0,49 0,04 0,19
Serragem de madeira 93,45 865/1 0,06 0,01  0,01
Torta de mamona 92,20 10/1 5,44 1,91 1,54
Torta de soja 78,40 7/ 1 6,56 0,54 1,54
Trigo/palhas  92,40 70/1 0,73 0,07  1,28

Estrutura do material

Material muito lenhoso (galhos, ramos, etc.) não devem passar de 10% em volume. Caso contrário resultará numa pilha hiper-arejada e por isso muito seca. No caso ideal deixar os galhos de molho ou ainda usa-los para compor a cama  de animais. Este material deve ser quebrado em pedaços com 5 a 12 cm de comprimento (1/2 palmo).

Material muito fino (borra de açude ou plantas aquáticas) devem ser pré-secas para não empastar a pilha, que ficará muito úmida.

Umidade

Umidade ideal: 50 a 60%. Teste prático: o composto deve soltar água como uma esponja que já foi espremida antes. Umidade processual mínima : 40 a 45%. Umidade para conservação: 12 a 15%.

Obs.: Para manter a umidade ideal, deve-se cobrir a pilha com folhas ou qualquer tipo de palha, ou até plantar uma abóbora em volta dela. Na questão da umidade torna-se importantíssima a escolha de um bom local.

Local apropriado

Este deve ser protegido do vento, do sol e da chuva. Na sombra de uma árvore temos estas condições e ainda deixamos o resíduo da pilha para esta árvore. Por isso o pomar,  é um ótimo local para se fazer uma rotação com as pilhas.

Num local coberto e com piso firme, temos as condições ideais que minimizam as perdas. Quando exposto a sol e chuva diretamente, o composto pode perder até metade de sua qualidade, devido à perda de nutrientes. Em regiões muito úmidas fazer a pilha ao nível do chão protegendo o local com um sulco escoador e escolhendo leve inclinação. Em regiões muito secas a pilha pode ser enterrada a um terço (50 a 70 cm).

Aeração

compost2Ela é antagônica à umidade e deve ser bem dosada. Garante o bom suprimento de todo os seres decompositores com oxigênio, eliminando ainda o gás carbônico produzido. A maior ou menor aeração se consegue através do tamanho da matéria prima.

Pedaços > 5cm = macroporosidade = aeróbia ()

Pedaços < 5cm = microporosidade = anaeróbia (condições de redução = silagem)

Para obter a macroporosidade – suficiente circulação de ar deve-se:

  • iniciar a pilha sobre um colchão de galhos e palha;
  • pequeno composto doméstico pode ser feito em caixas: furar todas as paredes;
  • ao montar a pilha, é ideal misturar bem ou intercalar em camadas as partículas grossas e finas;
  • nunca pisar ou socar a pilha;
  • pode-se improvisar canais de aeração montando a pilha com bambu ou galhos de atravessado que são mexidos num certo intervalo de tempo;

Temperatura

compost1Ao longo do processo de compostagem, o corpo da pilha, ou melhor seu centro, passa pela seguintes etapas Caracterizadas pela variação da temperatura:

  • FASE 1: médias e altas temperaturas, decomposição de celulose de amido e açúcares;
  • FASE 2: altas Temperaturas, decrescendo, decomposição de celulose;
  • FASE 3: temperaturas baixas, estabilização, ressíntese.

Num dimensionamento errado da pilha do composto, a temperatura pode ficar aquém ou além do desejável:

  • largura da pilha < l m x altura < l m = pilha não se aquece e precisa de cobertura especial para acumular o calor;
  • largura da pilha > 2,5m x altura > 1,5m = pilha aquece muito e predominam Microorganismos termofílicos, resultando num produto inferior.

Prática da compostagem

Coleta do material

CccomposNa coleta de material leve e seco deve-se maximizar o volume transportado, pois o peso pouco importa. Para tal, deve-se aumentar a capacidade de carga através de redes ou lonas. É sempre bom estocar matéria prima

Montagem da pilha (inspirada no método indiano Indore)

  • Havendo pouco material a pilha é erguida somente numa ponta, para que sempre possa se atingir a altura ideal. ( que é igual à largura);
  • A mistura ideal contém restos de vegetais e esterco, adicionando-se algum pó de rocha (fosfato de rocha ou pó de basalto);
  • Havendo material mais grosso e palhoso, este deve passar alguns dias no estábulo antes de ir para a pilha;
  • Um pequeno bastão serve para se arejar a pilha entre as reviradas. Tal arejamento torna-se necessário quando há carência de material estrutural (galhos, palhadas grosseiras);
  • Em menos de uma semana a temperatura (60 a 70ºC) chega ao máximo o que “cozinha”, por assim dizer, os materiais estruturais (fibras, celulose) fazendo a pilha desmontar e cair a 1/3 do tamanho inicial.

É sempre interessante identificar as pilhas de composto com plaquetas que indiquem as pilhas que estão prontas e em processo e as plaquetas que indiquem as que estão sendo formadas, de forma que aquelas que já atingiram o tamanho ideal fiquem em processamento sem mais incorporação de nenhum material, e o material do dia disponível seja usado para formar uma nova pilha. Podemos também identificar nestas plaquetas a provável época de maturação e estabilização do composto que estará pronto para uso.

No produto final ocorre um equilíbrio entre tudo que foi usado, resultando num material sem moscas, levemente úmido e com cheiro de terra. A qualidade do composto depende da forma como ele é tratado, e se tivermos em mente que ele é um dinamizado natural, podemos ver formas de potencializá-lo. Podemos citar aqui, como exemplo, uma questão de aprofundamento sobre a atuação do composto quando aplicado no solo: podemos ampliar esta atuação para o tratamento dos males que acometem as plantas, principalmente os citros e bananeiras. Sabe-se que as doenças causadas pelos fungos e bactérias – os parasitas ocorrem mais facilmente em monoculturas e solos pobres em matéria orgânica, onde se encontram difundidos pela terra e pelo ar. No entanto, é possível fazer com que as culturas criem uma resistência a eles. Pode-se dizer que numa compostagem bem feita, os restos de frutos doentes não chegariam a contaminar o meio e a propagar-se como a princípio poderia se pensar; ao contrário, se converteria numa “informação dinamizada” para os tratamentos dos (males), desequilíbrios.

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