BGCI lança padrão global para garantir biodiversidade em áreas reflorestadas

BGCI lança padrão global para garantir biodiversidade em áreas reflorestadas

E o Araribá JB será o “braço” da instituição britânica no Brasil para implementar os padrões de avaliação para matasOLP nativas e emitir a certificação

Por Tânia Rabello

Não basta simplesmente reflorestar. Há que se estimular, mais do que a manutenção, a perpetuação da biodiversidade na mata recomposta. Entretanto, ao redor do mundo e também no Brasil, mesmo com o avanço de grandes projetos de reflorestamento, nem sempre se toma esse cuidado – o que pode ser fatal, especialmente nas florestas tropicais, que dependem de intrincadas e sutis relações entre todos os seres que as habitam para se manter.

Atenta a isso, a Botanic Gardens Conservation International (BGCI), instituição fundada no Reino Unido, foi pioneira em lançar o “Padrão Global de Biodiversidade”, em 2021, durante a 26ª Conferência do Clima, em Glasgow, Escócia. Pioneira mesmo, porque essa preocupação começou a tomar corpo nas rodas científicas apenas recentemente.

A BGCI reconhece que há, de fato, uma “rápida expansão dos esquemas de plantio de árvores” no mundo. Mas adverte, porém, que não existe uma preocupação com a biodiversidade nesses plantios. Por isso mesmo o Padrão Global de Biodiversidade foi criado: para “interromper essa crise e reconhecer iniciativas que protejam, restaurem e melhorem a biodiversidade, em vez de acelerar o seu declínio”. A iniciativa urge, pois, segundo levantamento da própria BGCI sobre a situação atual das árvores no mundo, uma em cada três espécies de árvores está ameaçada de extinção – ou seja, quase 17.500 espécies correm risco.

Como maior rede botânica e de conservação de plantas no mundo, a BGCI pretende mudar essa realidade. “Somos a rede mais qualificada para estabelecer um padrão internacional de biodiversidade”, garante a entidade, que reúne mais de 650 instituições – principalmente jardins botânicos ao redor do mundo – e 60 mil especialistas em cerca de cem países.

Com tamanha rede no Planeta, a BGCI conta que está desenvolvendo o Padrão Global de Biodiversidade em conjunto com a comunidade botânica em vários países. Não será, portanto, um padrão definido “de cima para baixo”. Ao contrário. A instituição espera contar com a expertise de vários membros envolvidos com conservação ambiental em seus respectivos países.  “Com membros locais específicos para cada país e acesso a dados botânicos mais abrangentes e atualizados, podemos garantir que os melhores conhecimentos e dados sobre biodiversidade sejam adotados para avaliar os impactos e fornecer soluções locais para a crise global de biodiversidade”, garante a BGCI.

A BGCI cita que muitos dos atuais projetos de reflorestamento no mundo, “apesar de bem intencionados”, representam plantios em massa de espécies não nativas, o que leva “à extinção de espécies no mundo todo, introduzindo novas pragas, doenças e espécies exóticas no ecossistema”. E continua: “Como resultado, apesar de serem elogiadas como uma solução para a crise climática, muitas árvores não nativas danificam os ecossistemas ou não conseguem sobreviver em seus novos ambientes, reduzindo ativamente nossa resiliência climática global”. Para levar à frente a empreitada, a instituição britânica já conta com alguns parceiros, entre eles Ecosia, Plan Vivo, 1t.org e Etihad Airways.

Assim, a partir de agora a BGCI busca mais empresas e praticantes de plantio de árvores para participarem do teste do Padrão Global de Biodiversidade em condições reais, a campo. Com o padrão instituído, todas as iniciativas de gestão de terra, incluindo restauração de hábitat, plantio de árvores e iniciativas agrícolas serão elegíveis para certificação – de acordo com as normas do novo padrão. Os locais, explica a BGCI, serão avaliados de acordo com critérios baseados no documento do BGCI e “As 10 Regras de Ouro de Kew para Reflorestamento”, que descreve como fornecer reflorestamento que promova a recuperação da biodiversidade, a absorção de carbono e os benefícios socioeconômicos para as comunidades locais.

Mas onde é que o Araribá JB entra nisso?

Pois justamente na intenção da BGCI de trabalhar com parceiros locais, o Araribá Jardim Botânico (AJB) foi convidado, no Brasil, para contribuir para a formatação dos padrões que garantam a promoção da biodiversidade em projetos de reflorestamento. Entretanto, considerando-se o tamanho continental do Brasil e seus diversos biomas, a BGCI propôs que se instituíssem dois hubs locais. Assim, também foi convidado a participar do projeto o Programa Arboretum, em Teixeira de Freitas, na Bahia, que trabalhará sob a coordenação do AJB.

O AJB, com toda sua expertise de pelo menos três décadas em restauração ecológica de florestas nativas no bioma Mata Atlântica, vai definir os critérios e trabalhar, mais à frente, como uma certificadora, no Brasil, do Padrão Global de Biodiversidade, sob a chancela da BGCI.

Área restaurada no Araribá JB

“A parceria entre o AJB e a BGCI na conservação de espécies nativas ameaçadas de extinção na Mata Atlântica, que já vem desde 2017, foi fundamental para a escolha”, avalia o educador ambiental Guaraci Diniz, diretor do AJB. Durante 2022, segundo ele, ocorreu a capacitação de uma equipe técnica tanto em São Paulo quanto na Bahia e já foram feitos oito testes de campo nesses dois Estados aplicando-se o Padrão Global de Biodiversidade.

E agora, em janeiro de 2023, representantes de seis países participantes da iniciativa (Brasil, Índia, Quênia, Uganda, Madagascar e Peru) irão se reunir em Limuru, no Quênia, para compartilhar os resultados dos testes de campo aplicados em cada país. O objetivo é validar e uniformizar – respeitando-se as especificidades de cada bioma – os critérios avaliados para o Padrão Global de Biodiversidade.

A expectativa, segundo Diniz, é que esse padrão seja lançado em 2024, quando cada um dos seis países terá de apresentar também um plano de ação para aplicação da certificação no âmbito do Padrão Global de Biodiversidade.

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